O gás natural que chega hoje para Santa Catarina e atende a indústria, comércio, veículos e residências vem da Bolívia pelo Gasbol (Gasoduto Brasil-Bolívia). Como esta rede de transporte atravessa apenas a região litorânea do estado, em nove estações de recebimento entre Joinville e Criciúma, os primeiros clientes atendidos foram os que estão próximos a essa rede de transporte, a rede distribuição que deriva da própria rede transporte ou os que vieram a se instalar nessas localidades.
Dezesseis anos depois de iniciar a operação, a rede que distribui o gás natural em Santa Catarina soma mais de 1,1 mil quilômetros de extensão, a terceira maior entre todos os estados do país, e atende a 60 municípios. Apesar disso, a rede de gasodutos continua concentrada próxima ao Litoral, e levar o gás para desenvolver regiões como Oeste, Meio-Oeste, Serra, Planalto Norte e Extremo Sul continua sendo um desafio.
Entre as ações realizadas para enfrentar essa realidade está o Serra Catarinense, um dos maiores projetos para ampliação da rede de distribuição de gás natural no Brasil. O projeto irá instalar 230 quilômetros de rede entre Indaial e Lages, levando o gás para 16 municípios do Alto Vale do Itajaí e Serra catarinense. Recentemente, houve a conclusão da terceira das seis fases do projeto, com a gaseificação do município de Rio do Sul e o lançamento do edital para as obras que irão atender os municípios de Agronômica e Trombudo Central.
Buscando soluções para aumentar a velocidade na oferta do gás ao interior catarinense, a SCGÁS (Companhia de Gás de Santa Catarina), empresa de economia mista responsável pelo serviço no estado, organizou uma missão técnica a Portugal, que tem área geográfica semelhante e população um pouco maior que Santa Catarina. Na viagem, foi constatado que as regiões mais afastadas das redes de transporte e distribuição são atendidas pelo modelo de GNL (Gás Natural Liquefeito), no qual caminhões levam o gás em estado líquido até o consumidor.
Durante a viagem, foi assinado um protocolo com uma empresa portuguesa que atende 25% do país com o modelo de GNL, para estudar a viabilidade de implementar essa forma de atendimento em Santa Catarina. Esse modelo pode antecipar a demanda de regiões que serão atendidas em breve e levar o gás natural a novos consumidores. Quando o gasoduto chegar, o sistema de regaseificação é levado para outra região.
A primeira cidade do estado que testará o modelo será Lages. Com edital lançado em maio, as obras começarão assim que a agência reguladora catarinense divulgar a tarifa desse modelo de atendimento e finalizadas em até 14 meses. A primeira etapa do projeto tem investimento de R$ 4 milhões para a construção de oito quilômetros de rede. Ao todo, a obra terá investimentos de mais de R$ 10,5 milhões e instalação de 22 quilômetros de rede dentro da cidade de Lages, com possibilidade de atender indústrias, postos de combustível, comércios e residências.
Segundo o projeto, o gás natural seria liquefeito em Rio do Sul, cidade já atendida com o gasoduto, e levado por caminhões até Lages, onde seria regaseificado e injetado na rede chamada de dedicada – a qual será construída a partir do projeto licitado. Dessa forma, o último município que seria atendido pelo Projeto Serra Catarinense deve começar a receber o gás natural em 2018, enquanto que com os gasodutos o insumo chegaria a Lages apenas após 2020.
Ciente de que o investimento em rede estruturante é alto e requer longo tempo de execução, o presidente da SCGÁS, Cósme Polêse, acredita que outras regiões do estado poderão receber a oferta antecipada do gás natural se o modelo que será testado em Lages for aprovado. “Nossa missão como concessionária pública é promover o igual desenvolvimento das diversas e peculiares regiões catarinenses. Chegar com o gás mais longe e mais rápido é uma forma de cumprirmos esse objetivo, pois onde a SCGÁS chega, o desenvolvimento vem junto”, cita Polêse.
Atualmente, 230 indústrias catarinenses, responsáveis por 85 mil empregos diretos, utilizam o gás natural. O insumo também atende também quase dez mil residências, 300 comércios e mais de 90 mil veículo adaptados para o uso do Gás Natural Veicular (GNV) que abastecem em mais 130 postos de GNV ou GNC espalhados por todas as regiões catarinenses.
O gás natural
Apesar de ter origem fóssil, o gás natural é considerado um combustível limpo, pois reduz em até 90% a emissão de gases poluentes. O insumo é composto principalmente por metano, molécula presente na decomposição de matéria orgânica. Sua queima resulta na liberação de vapor de água e gás carbônico. “O gás natural libera menos gases poluentes comparado a outros combustíveis fósseis, que têm cadeia química mais complexa. E apesar de não ser renovável, o gás natural é a opção mais amigável ao meio ambiente disponível em larga escala e economicamente competitivo”, explica o assessor de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da SCGÁS, engenheiro Willian Anderson Lehmkuhl.
A SCGÁS produziu um estudo em 2012 para estimar a quantidade de CO² (dióxido de carbono) que os clientes da companhia deixaram de emitir ao adotar o gás natural como energético. O resultado constatou que 11 milhões de toneladas de CO2 deixaram de ser liberados na atmosfera desde o início das operações da Companhia. O volume de dióxido de carbono evitado corresponde ao efeito de 20,3 milhões de árvores, equivalente a quase 20 mil campos de futebol.
Além de emitir menos poluentes, o gás natural também atua como energético de transição entre os combustíveis fósseis e as energias renováveis. “Estamos saindo de uma época com uso excessivo de petróleo e carvão para pensar em novas fontes como energia solar, eólica e biomassa. Como é o último combustível fóssil da cadeia, toda a infraestrutura e a tecnologia desenvolvida para o gás natural poderá ser utilizada pelas energias renováveis no futuro”, completa Lehmkuhl.
Segundo cálculos da Gerência de Tecnologia da SCGÁS, atualmente cerca de 500 caminhões deixam de circular diariamente no estado por causa do gás natural. O cálculo leva em conta o transporte por caminhões de carvão, óleo diesel e GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) do volume equivalente a 1,8 milhão de m³ de gás natural por dia, atual média de consumo no estado.
No caso de atendimento pelo modelo de GNL não há prejuízo para o trânsito, pois um caminhão com gás em estado líquido carrega mais que o equivalente a um caminhão de óleo diesel ou GLP (Gás Liquefeito de Petróleo). Na comparação com a outra forma de entregar gás por caminhões, pelo Gás Natural Comprimido (GNC), o modelo de gás líquido pode armazenar até quatro vezes mais volume.