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Frei Marcos Huk: Mística ou ritualismo

frei marcos huk

Meus queridos irmãos/as a liturgia deste final de semana nos convida a superarmos toda forma de ritualismo para vivermos de fato o mistério do encontro com Deus. Mistério, porque neste estar diante e junto de Deus sempre sairemos surpreendidos e maravilhados.

Ir além dos ritos, acredito que seja o desafio mais antigo e, ao mesmo tempo, o mais atual que o ser humano encontra em sua vida. Superar os ritos quer dizer ir aos profundos ou, em outras palavras, chegar aos fundamentos da nossa vida. Do rito à mística, eis o caminho da eucaristia.

Antigamente, por preconceito intelectual e fruto de um dualismo grego, pensava-se em duas coisas separadas quando se falava de corpo e alma. Então, com o grande salto científico do século XX, centralizando-se no corpo se esqueceu da alma. Consequentemente, o ser perdeu a subjetividade humana, e, por isso, a religiosidade permaneceu ritualista, não conseguindo ir além. Resultado: quando a religião não atinge o profundo do ser, temos seres humanos que não conseguem olhar o outro como outro (em sua dignidade), esses veem o outro apenas como objeto de satisfação de suas necessidades.

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A religiosidade ritualista, não conseguindo falar à alma do indivíduo, obriga o ser humano buscar um além – em seitas exotéricas, cabalísticas, futuristas, entre outras.

Nossa liturgia, com autoridade, em pleno século XXI, vem reclamar sua legitimidade quando fala em “salvar a alma”. Sabe ela que se o indivíduo salvar sua alma, está salvando todo seu ser/pessoa. Porque, quem não salvar sua alma assume um comportamento que pode lhe definhar fisicamente (vícios), pode lhe aprisionar ideologicamente (pensamentos negativos), pode lhe resignar em seus sentimentos (ressentimentos), etc.

Nas leituras deste final de semana, especialmente a do evangelho, Jesus declara que as pessoas estavam atrás dele porque lhes dera de comer alimento físico e fazia milagres, e não por que Ele se entregava eles para lhes libertar – liberdade que faz ver além dos horizontes, ver a realidade última do ser humano que é estar com Deus. Daqui nos vem uma pergunta: por que vou à missa, por que vou atrás de Jesus: por que preciso de milagres? Por que preciso que Deus transforme algo em mim? Ou, vou por que quero estar junto de Jesus e, isso em si, já me basta?!

Jesus, que recebemos na eucaristia, pão descido do céu, basta; Ele desperta em nós o desejo de sermos melhores, de recomeçarmos quando erramos, de levantarmos quando caímos; Ele desperta em nós a vontade de sermos esposos(as) respeitosos, gentis e amorosos, cidadãos(ãs) comprometidos com o meio urbano, rural com o meio ambiente; etc. Jesus, enquanto pão vivo descido do céu, se ultrapassado o ritualismo, faz-nos sempre novos, em todos os sentidos.

Para terminar, São Paulo, na segunda leitura, pede para que nos despojemos do homem velho deixando para trás tudo aquilo que é mundano (falta de caridade e de perdão, espírito destrutivo e dominador, etc.) e nos revistamos do espírito do homem ou mulher novo(a), (solidariedade, caridade, gentileza, perdão, amor incondicional) a partir de Cristo Jesus – o qual se doa na eucaristia.

Por fim, quando você vai à missa: se encontra com Cristo, vive o mistério libertador que Deus lhe propicia neste encontro, ou apenas cumpre ritos?

Na mística eucarística, que vivemos a partir do pão descido do céu, Deus lhe abençoe ao longo desta semana e que você possa viver na paz do Senhor – que vem do alto – em sua família, com seus colegas de trabalho, com seus amigos de grupos sociais. Amém.


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