Levaram até Jesus um surdo que não falava direito, diz o texto de São Marcos, ontem, lido nas assembleias santas – porque eucarísticas. Narra-se que em seguida, Jesus, com esta pessoa se retirou do meio da multidão e a levou a parte.
Para dar sentido ao que foi lembrado acima, faz-se necessário lembrar o que foi dito no domingo passado: Jesus esclareceu que o que faz o homem ou a mulher impuro não é o que vem de fora e sim de dentro. Jesus deu exemplos de impurezas: devassidão, imoralidade, falta de juízo, orgulho, avareza, adultério, entre outros.
Veja, Jesus tem razão, porque, habitualmente, estes comportamentos, de características impulsivas, são naturais e são localizados no coração humano – porque são sentimentos humanos. Sabe-se que estes sentimentos/impulsos são resultados de mecanismos de defesa que o “eu”. A pessoa constrói mecanismos para defender a sua individualidade. A proteção em si é boa, mas quando exacerbada causa danos a quem se protege e a outros que estão ao seu arredor. O dano é a perda de liberdade interior.
Agora, observe o texto deste domingo (ontem) em relação ao evangelho ao outro domingo passado. A pessoa, impura no seu coração, é acolhida por Jesus e Ele se retira com ela para fora da multidão. Então, Jesus faz um ritualismo e pronuncia palavras (celebração) e, assim, lhe recupera a surdez e lhe devolve a palavra.
O acolhimento da pessoa por parte de Jesus e o ato se retirar com ela para fora da multidão descreve o processo da cura interior ou da libertação interior; sabe-se que a pessoa para ser curada precisa se “afastar” da situação que provoca o mecanismo de defesa, o qual está dissonante em relação à realidade do momento.
Distante da situação, Jesus faz o milagre, ou seja, os olhos, então, cegos por desejo de vingança, veem a presença de Deus no irmão; a boca, cheia de palavras ácidas (fofocas), promove a paz; assim é com todas as outras impurezas. A pessoa fica curada de uma prisão interior que o “eu” por se defender de algo que não apresentava motivo real para se defender.
Isso vimos também na segunda leitura, a de São Tiago. Precisamos de uma fé prática. Fé abstrata, na concepção da Igreja, não existe. Fé ideológica não é a fé que Jesus nos ensinou. Fé quando verdadeira, manifesta-se em liberdade diante de si, do outro, da natura e de Deus. O amor de Deus é livre e quando amamos verdadeiramente somos livres. Paixão é mecanismo de defesa, portanto tolhe liberdade induzindo até mesmo à impureza.
A partir do evangelho (São Marcos), segundo a visão da segunda leitura (São Tiago), entende-se que em toda celebração eucarística se estende o ato milagreiro de Jesus, ou seja, o gesto de Jesus tirar pessoas do meio da multidão para devolver a audição aos surdos, a visão aos cegos, a voz aos surdos, entre tanto, repete-se ainda hoje nas celebrações eucarísticas; pois, no início da missa se diz: “bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”.
Portanto, toda missa é Jesus que tira você do meio da multidão (família, amigos, praça, …e alhures) para lhe realizar um milagre, isto é, em toda missa Jesus quer lhe fazer um homem ou uma mulher melhor – no mínimo despertar em seu coração um desejo santo (eu quero ser melhor). Isso é uma missa prática. Agora, Jesus sempre vai respeitar a sua liberdade. Se você não quiser, Ele não fará nada com você, mesmo lhe retirando do meio da multidão. Por exemplo, você vai à missa e não sai como tem entrado.
Para terminar, não importa a situação em que você se encontra. Jesus está sempre lhe convidando para se retirar com Ele (ir à missa) para que o milagre seja possível. Na primeira leitura, temos o profeta Isaias que diz: diga às pessoas deprimidas: criai ânimo, coragem… Isso é para você. Não desanime nunca, Deus está ao seu lado querendo lhe fazer um milagre. Deixa Deus trabalhar no seu coração. Vá à missa… Ele quer lhe libertar das impurezas que lhe impedem viver e viver plenamente.
Deus lhe abençoe e seja feliz, boa semana.