Wagner Fonseca, poeta, professor e blogueiro
Parte-se
Parte-se tão repentinamente
Como algo oco
Que em sua condição
De oco
Fragilmente
Se parte
Parte-se para longe
E de longe revira tudo
Pois longe se olha
De longe também se sente
Pois é da condição de distante
Sentir-se
O que longe ainda mora
Saudade é dor que nos namora
Irrompe um silêncio
Entre notas musicais
Irrompe o silêncio
Da contemplação do longínquo
Estar-se feito
Em partes
Em partes se respira
E pesa-se
O pesar de estar-se
Pesado
Um engasgo que fisga a lágrima
De quem parte
E parte com um pedaço
De quem fica
Que fica engasgando-se
Em metáforas
Que pouco explicam, de verdade
Ambos se partem
Os que vão e os que ficam
E ainda algo que quebra
Em quem vivifica
A perda de estar-se
Sempre a pensar
Em quem jamais poderá estar
Tão longe no horizonte
Tudo é horizonte
De eventos e onde sopram
Os ventos
Da saudade
Da memória
Da felicidade e da tristeza
Ambas se entrelaçam
E se partem
No partir-se
De ir indo e vir voltando
Como quem vai sem nunca
Ir realmente
E quem fica sem nunca
Estar com profundidade
No profundo raso
De ser e não estar
De ir sem nunca ter ficado
Um soluço
Um arrepio
Um calar-se
E um tênue
Ansiar
Sem nunca saber, apenas imaginar
Como parte-se
Sem querer ir ou ficar
Inteiro
Ou em partes.