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O fantasma de Larrosa

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Wagner Fonseca, poeta, professor e blogueiro

Diz o sábio que o estudante estuda, purificando o seu existir. Essa imagem me persegue, mas não é a única, enquanto leio suas críticas objetivas e poéticas à escola e à educação.

Explicando os conteúdos aos alunos eu vejo sua imagem. Como pode ele me assombrar se tão vivo hoje está? Deve, inclusive, estar proferindo alguma palestra na Europa. Ainda assim me assombra, me afronta, me desnorteia (ou me dessuleia…)!

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Ele continua me assombrando e nunca está sozinho. Ao seu lado estão aqueles fantasmas idos que proferiram tão eloquentes palavras sobre o ato de ensinar – e também de aprender. À minha frente uma miríade de possibilidades, muitas perdidas, que seja dito – e com muito pesar, que seja dito também – todavia, continuo com o assombro de ser obrigado a esquecer o pesar. Tentar, o ato concreto é dificílimo. Tentar. Tentar é o ato radical de subtrair dessa realidade opaca as luzes que podem transformar meu fantasma no espírito criador, protetor, inspirador de novas, necessárias e improváveis possibilidades, portanto, tão mais criadoras e inspiradoras de um real porvir.

Acordo desse lapso de desejos e fito os olhares perdidos, as conversas soltas e a liberdade imediata que propus a alunos e alunas. Retorno meu fazer à exposição explicativa daquelas ideias. Alguns ousarão seu futuro melhor conforme os ditames familiares que sequer entendem os ditames sociais. Castrados, assim, domesticados pelas necessidades impostas de ser sucumbirão seus reais sonhos que, talvez, os elevassem a liberdade de ser.

Castrado, eu, adestrado a domesticar o futuro, continuo meu exercício de inculcar nas jovens mentes as benesses do deus-progresso. Nem minha crítica o desvanece de corações prontos e dispostos a contribuir com a seta dourada do consumo. A história de todas as coisas me guia por tantos pensadores que já expuseram muito bem quem serão cada um desses ‘mundinhos’ da sala de aula: consumidores livres para tudo que lhes for ofertado.

O bárbaro, hoje, sou eu. O vândalo das ideias, o anarquista solitário. O fantasma me sorri e se dilui no nada. Talvez eu o tenha entendido. Talvez ele tenha me entendido. Não posso simplesmente dar a palavra, não posso domá-la. Eu preciso libertá-la, matar a morte do desejo e extrair a liberdade do tudo pode acontecer.


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