Psicóloga Jéssica Horácio de Souza CRP 12/14394
A raiva é um sentimento que possui origem na frustração de desejos e expectativas. E essas são desencadeadas geralmente quando o indivíduo tenta controlar algo ou alguém mas percebe que não obteve o resultado que gostaria, logo, automaticamente ele se frustra consigo ou com o outro. A frustração por sua vez desperta crenças pessoais internalizadas: “Não sou bom o suficiente”, “Eu não admito ser contrariado”, “Estou sendo rejeitado”, “Isso precisa funcionar do meu jeito!”… Essas crenças por sua vez geram sentimentos como: tristeza, medo, angústia, que podem despertar raiva ou a ira como expressão de agressividade ou até mesmo como defesa para evitar sofrer ainda mais… E como consequência, desencadear atitudes compatíveis com todo esse conjunto de percepção disfuncional a respeito de si, do outro e da vida.
Se imagine na seguinte situação: Você aprendeu que precisa “ganhar” toda discussão para se sentir reconhecido. Você inconscientemente desenvolveu o autoritarismo devido a uma insatisfação pessoal originada na infância onde sentia que para receber aprovação precisava sempre “estar certo”. Em uma conversa, alguém discorda do seu ponto de vista, com isso você acessa a crença de que sua percepção foi desqualificada e de que não pode perder o controle da situação pois precisa ser aprovado, e com isso sente raiva pois entra em contato com o seu sentimento de desaprovação/rejeição. Então, como é difícil ter que lidar com esta dor, você expressa toda a raiva acumulada de todos os eventos em que se sentiu rejeitado: agride verbalmente a pessoa que não concordou com o seu ponto de vista, a insulta e a desqualifica pois é exatamente dessa forma que você se sentiu.
Perceba que você tem o direito de estar com raiva, mas que isso não lhe dá o direito de ser cruel com o outro. Embora seja uma auto defesa, pois ela impulsiona o indivíduo a se posicionar e expressar seus sentimentos e pensamentos, a raiva possui como característica também impulsos auto destrutivos. Isso porque como ela é um acúmulo de tensões, quando é liberada, não possui filtros nem controle. É desta forma que alguém fica “cego de raiva” e acaba tendo comportamentos impulsivos e descontrolados, causando danos maiores que a própria situação que desencadeou o seu estresse.
É importante saber que quando se está com raiva, tem-se o direito de estar com raiva e de sentir plenamente este sentimento, porém, é necessário compreender que a expressão da raiva sem maturidade emocional pode gerar como resultado o afastamento de pessoas até então próximas, pode despertar agressividade no outro também, incompreensão, tristeza, medo… A crueldade geralmente surge como expressão da raiva, porém ela além de não ser resolutiva para o problema em si, ainda demonstra imaturidade emocional, falta de controle sobre os próprios sentimentos, além de causar danos sérios para quem ela é direcionada.
É importante compreender que a raiva não deve ser contida, que ela precisa ser expressada para aliviar as tensões e a partir disso possibilitar um raciocínio mais claro e brando. Contudo, existem formas saudáveis de expressar este sentimento sem que ele traga prejuízos para si e para o outro. Mesmo que exista um motivo coerente para se sentir com raiva, é fundamental desenvolver a habilidade de expressa-la para que seja resolutiva ao invés de criar novos problemas. Por isso é tão importante se conhecer, é através da autoanálise que conseguimos identificar como estamos nos posicionando e quais as consequências deste posicionamento. Se questione:
- Em quais situações sinto raiva?
- Como eu expresso a minha raiva?
- Quais as consequências para mim e para os envolvidos quando eu expresso a minha raiva desta forma?
A partir disso, desenvolva formas mais saudáveis de expressar a sua raiva, e ou busque auxílio psicológico para a elaboração dos conflitos que originam essa raiva e para o desenvolvimento de estratégias de expressão deste sentimento.