Wagner Fonseca, poeta, professor e blogueiro

“Não vamos deixar o nosso tempo passar…” Cantava o Portal da Cor nos meus tempos de bailes há mais de 15 anos. Foi ontem, logo ali na esquina do tempo. Mas como tudo tem volta nessa vida, sexta-feira, dia 09 de novembro, lá estávamos nós, eu, minha esposa e filho, em Urussanga para rever nosso tempo de adolescência. Para meu filho um gostinho do que tivemos e ele perdeu.

Chutei a música de abertura e acertei. Ele se emocionou, pois é uma de nossas favoritas. Pai e filho curtindo Bohemian Rhapsody do Queen ao vivo e ao “ar livre”. Nesses momentos me pergunto como a música em geral decaiu tanto?! Larguei esse pensamento no ar e fui curtir o show gritando, pulando, cantando junto e balançando o cabelo. Eu era adolescente de novo.

Ao meu redor muitos cabelos brancos, muitas carecas e muitos senhores com alguma circunferência abdominal proeminente. Me senti mais jovem outra vez. Quando dos meus dezoito anos de idade, aquela turma já curtia o mesmo som há pelo menos uns 15 anos. Alguns hoje são avôs. Eu e muitos da minha época somos pais. “Não vamos deixar o nosso tempo passar…”

Às vezes eu me via pulando sozinho e de repente parava. O que devem pensar de mim?, pensava eu e na verdade pouco me importava com isso, pouco me importo mesmo. Claro, o corpo sente bem mais uma madrugada de festa do que antigamente, porém o espírito está ali, tal qual Angus Young saltitando e fazendo solos como um garoto da década de 1970. Faltou um AC/DC no show e nós esperamos que isso possa ser revisto noutra oportunidade.

O melhor de tudo foi trazer aquele espírito de San Rafael de volta, da época em que nossas “baladas” eram na “discoteca” ou no “salão” aos domingos de final de tarde. Íamos todos de ônibus e éramos muito felizes. Trabalhar a semana inteira para poder dançar um pouco nos domingos. Ou algum baile no Ideal de Forquilhinha. Por onde andarão todas aquelas bandas?

O tempo passou e muita coisa mudou, coisas boas e coisas ruins e, mesmo assim, ainda levará certo tempo para entendermos os resultados de tantas mudanças. Afinal, quem ainda compra um CD hoje em dia?

Na boa, esse mundo virtual que engole as pessoas solapa quase que instantaneamente as relações sociais. Éramos mais livres, éramos mais próximos, éramos mais felizes e sabíamos disso. Hoje o que sabemos é isso mesmo, a felicidade que perdemos, entretanto carregamos a certeza de termos vivido uma época fantástica em que a espera por mais um Baile do Chopp ou Baile de Páscoa era o que nos tornava ansiosos. A saudade regurgita forte dentro de quem ainda guarda suas memórias…