Certos assuntos nos cansam, é “chover no molhado”, para aproveitar o dito popular. Quando falamos em educação aí é que tornamos o “molhado” mais úmido ainda! O que precisa ser dito que já não tenha sido esmiuçado sobre esse conceito tão fundamental às sociedades humanas? Educação, antes de qualquer coisa, sempre repito, não se trata apenas de escola.
Os números que intitulo esse texto são os relativos à publicação do IDEB, uma espécie de métrica para aferir a qualidade da educação escolar no Brasil. E o que esses números nos mostram realmente não correspondem com a realidade. Obviamente que são importantes, são fundamentais e servem como guias. Porém, que realidade eles nos traduzem? Uma rápida conferência nesses números e a conclusão é logica (ouvi na tevê também isso): quanto mais tempo na escola, menores são os índices do IDEB.
Traduzindo: quanto mais tempo na escola, menos se aprende. Ponto final!
É, eis uma dura verdade que ouvimos há anos e muitos colegas professores querem mascarar isso, não é mesmo? Não! E sim também, afinal, nós é que seremos acusados do fracasso de cada aluno e cada aluna, porque sempre é isso que a sociedade diz: o fracasso escolar é culpa de todo mundo, mas principalmente da escola! Podem até virar a cara para o lado e fazer mea culpa, mas sempre e sempre recaem seus desafetos contra a escola. Eita vontade de explodir em impropérios numa hora dessas…
Calma, respira… Vamos analisar as coisas com mais calma…
Aí que o bicho pega: análise, pesquisa profunda, estudo. Educação não é algo que compete apenas à escola e venho repetindo isso como papagaio assim como muitos estudiosos e educadores repetem também. “Educação vem de casa!”, outra velha cantilena que estamos cansados de ouvir. E quem educa a casa? A televisão? O celular? A igreja? A bebida? As drogas? A violência? As faltas e os excessos e os desequilíbrios da vida moderna? A educação não vem só de casa e por isso exige estudo e pesquisa constantes. Creio que aqui nesse ponto seja preciso distinguir três ideias para se pensar a educação: primeiro; a educação para além dos muros da escola, como uma dimensão sócio cultural humana, algo que envolve toda a sociedade em todos seus aspectos; segundo, e justamente por causa dessa primeira ideia, o estudo, a pesquisa e a análise de tudo que envolve a educação deve ser constante, não à toa a pedagogia, a história, a filosofia e sociologia da educação estejam sempre aí estudando esse fenômeno humano que é a educação; terceiro, o que compete à escola ensinar e por quê.
Se encaramos a educação como uma dimensão humana, vamos atribuir uma responsabilidade intrínseca a cada ser humano no trato para com o outro, o que já exigiria de cada um de nós habilidades necessárias para melhorar esse convívio social que temos. Nesse caso, saber dirigir é tão importante quanto saber somar e dividir, saber preservar é tão importante quanto conjugar um verbo corretamente. Acima de tudo, respeitar o próximo, não julgar, não ter preconceitos, evitar a auto depreciação, desenvolver a empatia e a alteridade estão níveis acima de entender cadeias de ligação química. Mesmo que se saiba que tudo que nos liga seja de origem química, antes de tudo, somos seres relacionais (mais um lugar comum) e é na relações sociais que nos forjamos em sociedade, na convivência com os outros.
Comumente se ouve dizer que as escolas não preparam estudantes para o mercado de trabalho. Que as escolas deveriam ensinar educação fiscal, que deveriam ensinar educação financeira, que deveriam ensinar educação sexual, educação para o trânsito, educação emocional e tantas outras coisas que as escolas deveriam ensinar. A sociedade quer que as escolas ensinem tudo, quer que professores e professoras ensinem tudo, que sejam cuidadores de seus filhos e filhas. No entanto, essa mesma cobrança deve ser feita sobre a própria sociedade. O que torna o trabalho mais difícil, não é mesmo? Afinal, a escola é só uma instância, só mais uma instituição dentro de uma estrutura muito maior e infinitamente mais complexa que é a própria sociedade. E não vai ser aqui nesse espaço de escrita que vamos conseguir vislumbrar quaisquer possibilidades de mudanças dentro da educação (ou seria melhor falarmos em educações?).
Pior ainda, quando falamos sobre educação, é aquela velha e enferrujada fala saudosista com um fundo moralista presunçoso de quem parou no tempo (mas usa celular todos os dias…) que diz: “Bom era na minha época…”, bem e aí cada um pode completar a frase como bem lhe servir, porque minha época também foi boa, para mim, na medida do mensurável.
Outros tempos, outras ideias. Hoje uma miríade de artefatos tecnológicos rouba a atenção das pessoas – eu mesmo estou fazendo uso de um deles nesse exato momento. Nós, adultos reclamamos que nossas crianças e jovens perdem seu tempo com jogos e celulares, deixando os estudos de lado. Enquanto esses que criticam o uso desmesurado da tecnologia por nossos jovens (ou é ela que os usa?) sabem os males a que eles estão expostos, por que será que não fazem esse mesma crítica a si próprios quando deixam de pesquisar e difundem falsas ideias pelas redes? O retrato do fracasso escolar não é reflexo apenas da escola, porque a escola é um espelho da sociedade em que vivemos, infelizmente, doa em que doer…