Wagner Fonseca – poeta, professor e blogueiro
Os donos da verdade
Espalham a verdade
Que lhes convêm
Assim, enfim, obrigam a todos e todas
A dizer seu amém
Ou também, aleluia
Ou outra palavra
Que lhes convêm
Quem cala consente, ou não sente
Somente não fala
Não questiona
Não duvida
Não reflete
Ouve e repete
A verdade enunciada
Pelas bocas engravatadas
E dedos em riste!
Corpos treinados e comportamentos adestrados
Adestram cães e lobos
Para dominar o rebanho
E assim, enfim,
Todos dominados
Pela verdade endeusada
Que não pode ser questionada
A verdade é luz
A verdade é essência
E, quiçá, alguma indulgência
A verdade, tão almejada
Não possui uma única cara
Palmas para ela, senhoras e senhores!
A verdade gloriosa por homens é criada
Contada
Aceita
Mitificada
Aclamada
Perfeita
Infinita!
A verdade, quem diria, foi apropriada
Como posse foi, na verdade, expropriada
Presa em cadeias de pretensos reis
E postulantes a profetas
A verdade é lei, legitimada
Amplamente aceita,
Ou,
Você se cala
Não pensa, não fala
Se murmurar
Se suspirar
A verdade também te mata
Pois a verdade pura
Não tem lar, não tem casa
A verdade tem dono
Tem nome
Os donos da verdade te ensinam sonhos
Mas sabem pouco além daqueles que sabem nada
A verdade é mentira reinterpretada
A verdade é engodo para ceifar sonhos
De liberdade
A verdade, responsabilizada
Pelos acertos perfeitos
De quem a guarda
A verdade tem dono
Tem máscara
Aceita o que te dizem
Balance sua cabeça
E esqueça tua fala.