Nascido na bela cidade de Orleans, Santa Catarina em 1930, José Fernandes tornou-se popular por seu talento artístico e também por sua alcunha um tanto quanto inusitada: ZÉ DIABO. Ainda garoto trabalhou como pedreiro junto com seu pai na extração de pedras e começou a construir uma relação profunda com estas, já nesta época demonstrava talento para a escultura. Também trabalhou como pintor de casas durante 30 anos, mas insatisfeito com a rotina Zé diabo que possuia “alma de artista”, decidiu entregar-se ao mundo das artes plásticas.
Auto didata passou a pintar telas e murais; pintava retratos, paisagens, autoretratos e principalmente cenas religiosas. Inúmeras igrejas da região possuem pinturas feitas pelo artista. Suas pinturas eram desenhadas com cores vivazes que ajudavam a compor um caráter intenso a suas obras.
Uma delas lhe rendeu o apelido “Zé Diabo”: na igreja de São Miguel Arcanjo em Grão Pará/ SC, o artista pintou uma disputa entre o bem e o mal, o demônio retratato pelo artista ficou tão assustador que causava medo nos fieis que frequentavam o local, contam ainda, que pediram a José Fernandes para repintar a obra e o mesmo negou-se a fazer e assim ganhou esse apelido, que foi adotado pelo próprio como nome artístico.
Responsável por uma das esculturas mais grandiosas da região Sul do Brasil o “Paredão de Orleans”, é uma obra que teve início em 1980 e ocupa aproximadamente 200 metros de cumprimento, estes painéis que foram a realização de um desejo de infância do artista, retratam cenas bíblicas com um toque de originalidade característico de Zé diabo, foi esculpido diretamente na pedra, um trabalho magnífico que embeleza a cidade. Os painéis nunca foram concluídos por falta de apoio financeiro. Além do paredão Zé diabo esculpiu em igrejas e é de sua autoria o pórtico de entrada da cidade.
O trabalho de escultor lhe trouxe problemas musculares que o impediram de esculpir e José Fernandes passou a escrever causos, suas histórias eram um misto de regionalisno, fé, religiosidade e muita imaginação, falava de acontecimentos do cotidiano da típica cidade do interior com empatia e domínio de conteúdo.
Foi um grande artista, um ícone da atualidade, seus talentos foram incontáveis, sua força de vontade maior ainda e grandiosa foi sua contribuição no movimento artístico de Santa Catarina. Atreveu-se em sonhar alto e realizou alguns belos sonhos. O medo não lhe fez companhia e enfrentando as mais variadas interpéries foi a própria resistência da arte e imortalizou-se na história cultural. Zé Diabo Faleceu em 2017, aos 87 anos e deixa-nos obras valiosas, ele lutava pela valorização da arte, pela valorização do artista e trabalhava com amor, tornando a arte acessível para todas as pessoas.
Fica o convite para visitação ao paredão e ao pórtico que tornaram-se pontos turísticos do município, ambos localizados em Orleans.
Referências
CAMPOS, Renata Bussolo. Zé diabo: um artista de múltiplas linguagens. 2006. 137 f. monografia (pós-graduação em Ensino da Arte), Unesc. Criciúma, 2006. Disponível aqui.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. 6ª ed. Rio de Janeiro: Vozes. 1987.
MATOS. Tamires Serafim de. José Fernandes: o diabo que cria para o povo e a arte no dia a dia. Revista Santa Catarina em História. Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 56-65, 2016.