Neste Dia Nacional do Doador de Órgãos, 27 de setembro, a história do Paulo, um paciente que em 2016 precisou de um transplante de rim para continuar vivendo.
Após um ano e 10 meses de hemodiálise, Paulo Serafim teve sua vida completamente bagunçada quando ouviu de seu médico que iria precisar de um transplante para poder aumentar sua expectativa de vida.
“Após o diagnóstico de que eu precisaria de um transplante de rim, foi muito doloroso e assustador para falar a verdade. Mas graças a Deus tudo aconteceu muito rápido, fiquei apenas nove dias na fila de espera. Estava dormindo, quando o telefone tocou avisando que haviam encontrado um rim para mim. Parecia um sonho. Eu e minha esposa fomos para Florianópolis num piscar de olhos; não deu nem tempo de pensar, só fomos e a felicidade claro, transbordando.
A doação aconteceu em outubro de 2016, no próximo dia nove, faço um ano de transplantado e em setembro, completo 57 anos; posso dizer que a comemoração é em dose dupla, eu e minha família estamos muito felizes. Se hoje estou vivo, foi graças a família que autorizou a doação”, conta Serafim emocionado.
A doação
A doação de órgãos só pode acontecer após a constatação de Morte Encefália-ME, (onde não há mais função neurológica). A constatação é realizada por especialistas e exames.
“ME é uma morte diferente, uma morte onde o coração continua batendo, mas como se trata de morte é irreversível. Assim, por ser especial é possível que a pessoa possa ajudar outras que necessitam de transplante. É uma oportunidade de em um momento difícil ajudar outros que precisam. O procedimento é feito seguindo regras criteriosas e a realização de diversos exames. Sempre que existe a suspeita de ME é aberto um protocolo junto a SC transplante para notificar a suspeita e então avaliar se efetivamente o paciente se encontra ou não nesta condição. Todo processo é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina em resolução específica para tal fim. Neste sentido essa resolução deve ser seguida para que se comprove a ME. Um exame comprovatório também é realizado para constatar efetivamente a ME”, explica Felipe Dal Pizol, médico coordenador da CIHDOTT.
Talvez algumas pessoas ainda desconheçam, mas a doação de órgãos é uma prática de muitos e muitos anos; algo que já acontece desde o século XV. No Brasil o primeiro transplante realizado foi o de córneas, em 1954. Ao longo dos anos médicos e estudiosos foram aperfeiçoando a técnica e hoje o transplante de órgãos já é um grande avanço da medicina. Tudo mudou e a tecnologia tornou-se uma grande aliada para os procedimentos.
Comunicar a família é necessário
A prática do transplante de órgãos e tecidos no Brasil é baseada em leis. A de número 9.434, de 1997, regulamenta o uso de partes do corpo humano, tecidos e órgãos de pessoas que foram a óbito a serem destinados a transplantes ou tratamento.
Hoje se a pessoa não tiver comunicado a seus familiares sobre sua decisão de se tornar um doador de órgãos, após a constatação da ME; a decisão sobre doar ou não os órgãos passa a ser da família do paciente, parentes até quarto grau de parentesco podem tomar a decisão.
Qualquer pessoa pode se tornar um doador de órgãos. Em vida é possível doar rins, parte do fígado, da medula óssea ou pulmão. No caso de doadores falecidos, com a constatação de morte encefálica, é possível doar fígado, rins, pâncreas, córnea, coração e até pele.
Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos
O Hospital São José desde 2001 possui uma Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e tecidos para transplantes – CIHDOTT. O grupo é composto por uma equipe multidisciplinar que além de participar de todos procedimentos de captação tem a responsabilidade de esclarecer as dúvidas dos familiares, referente a morte encefálica constatada e alertar que seu ente querido pode ser um doador de órgãos.
“Este resultado só se dá quando temos uma equipe engajada e comprometida pela causa, o processo é extremamente doloroso para aquele que perde seu ente querido que através dá dor coloca alegria de uma nova vida em pessoas que nem sabem quem são. Somos um povo generoso e quem tem está atitude de doar os órgãos é tocado por este grande amor que é ajudar o próximo”, aponta Daniela Luiz, coordenadora da CIHDOTT.
Em 2016 o Hospital São José registrou 36 protocolos de morte encefálica; destes, foram realizados 13 captações de múltiplos órgãos. Santa Catarina ocupa atualmente o nono lugar no ranking de Estados com o maior número de captações de múltiplos órgãos.
Dados do Ministério da Saúde apontam que em 2016, o Brasil conseguiu registrar o maior número de doadores efetivos da história. Foram notificados 2.983 doadores, o que representa uma taxa de 14,6 por milhão da população – PMP, um aumento de 5% comparado ao ano anterior (2015). Além disso, registrou-se um crescimento de 103% no número de potenciais doadores entre 2010 e 2016, passando de 4.997 para 10.158.