Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga
Com qual frequência você utiliza o verbo “querer” conjugado na primeira pessoa do singular? “Eu quero” tem ganhado espaço no seu vocabulário? Tomara que sim, tomara que sim. O desejo é a nossa ligação com a vida, é através dele que os sentidos são construídos, que a vida é significada, que o prazer entra pela porta da frente da nossa casa.
O que você tem desejado? E o quanto os teus desejos falam sobre a aceitação de quem você é?
Penso que não há lugares em que os desejos são mais intensos e aparentes quanto em hospitais e aeroportos. Lá os desejos se tornam gritos, preces, abraços, lágrimas… Lá estão os desejos da cura, do nascimento, da não despedida, do retorno… Já reparou nisso?
Hei, quanto de intensidade mora nos seus desejos?
Qual foi a última vez que o seu querer foi vocalizado com visceralidade?
Quando falamos sobre desejar automaticamente associamos à ideia de realização que advém da ação de tornar o desejo concreto. Mas hoje aqui eu não quero falar sobre a realização dos desejos, talvez este seja um tópico para um outro artigo. Hoje eu só quero te lembrar de desejar, de aceitar os seus desejos e de colocar intensidade neles. Isto, neste momento em que estamos vivendo diante de tantos lutos reais e simbólicos, pode ser suficiente para nos manter conectados à vida.
Desejar esticar as pernas, chegar em casa e tomar um banho quente, desejar dar risada com os amigos, terminar de ler aquele livro incrível, desejar comer o arroz e feijão da mãe, sentir o perfume do seu neném, desejar gritar para extravasar o estresse e a impotência diante de um cenário tão inóspito, desejar ouvir a voz do pai que faleceu há poucos dias… São todos desejos que nos aproximam da humanidade que nos habita e que significam a nossa história. Mas a verdade é que para serem sentidos, todos estes desejos precisam da nossa permissão.
Existe desejo errado? Não. Todos os desejos falam sobre quem somos, mas obviamente não podemos sair por aí satisfazendo tudo aquilo que desejamos. E é aí que está um conflito interessante, por vezes acreditamos que a imoralidade da concretização de algumas vontades faz com que o nosso querer seja também imoral. E é neste processo de compreensão equivocada que passamos a condenar aquilo que sentimos, podendo inclusive, reprimir desejos que só precisavam serem sentidos e aceitos para então se acalmarem e desaparecerem por já terem cumprido o seu papel: nos mostrar que estamos vivos e que somos humanos.
Bem, eu desejo que você se permita olhar para tudo aquilo que pede atenção dentro de você mesmo, mas isto não significa que eu tenho como tornar este meu desejo uma realidade concreta. Mas desejar já me faz saber quem eu sou e entender que estou conectada a vida.
E você, qual é o seu desejo?