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Depressão de fim de ano

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal

As decorações de natal começam aparecer nas lojas, as estratégias de marketing para vender presentes também, vinhetas de fim de ano na tv surgem, projetos sociais para arrecadar fundos para o dia 25 de dezembro também. Há quem espere ansiosamente por estas manifestações natalinas para viver o que consideram ser o melhor período do ano, mas há quem fique ansioso para que esta data passe rapidamente, e para que as pessoas em geral não comemorem esta época.

A depressão de fim de ano ou depressão episódica é desencadeada por diversos fatores que estão ligados a representação que o natal e o ano novo trazem para cada indivíduo. É comum que o indivíduo já possua traços depressivos e com a chegada do fim do ano estes traços se intensifiquem a ponto de por exemplo gerar recaídas num quadro que já estava estabilizado.

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A cultura do final de ano promove alguns desconfortos por estar intimamente ligada com a obrigatoriedade de felicidade e perfeição. A união das famílias, a celebração de conquistas que ocorreram durante o ano, os planejamentos rebuscados de positividade para os próximos 365 dias, podem gerar ou estimular negativamente conflitos internos naquele indivíduo que não consegue satisfazer alguns ou todos os critérios de felicidade típicos desta época, principalmente se somado à isso ele possuir características de auto cobrança, dificuldade de lidar com frustrações, baixa auto estima, e sensação de solidão.

Além disso, entrar na própria realidade e perceber os desafetos que existem com os próprios familiares, os planos que não se concretizaram como se queria, o rompimento de um relacionamento, a perda de alguém que nesta mesma época estava presente, faz com que se reforce a sensação de fracasso e as crenças pessoais de que somente a sua vida não é perfeita como a das outras pessoas que gozam deste período do ano.

Lidar com as dores que surgem nesta época pode ser extremamente angustiante se o indivíduo se colocar em questão ao invés de questionar o porque da obrigatoriedade de felicidade e perfeição típicas da cultura que envolve estes eventos. Isso porque quanto mais o indivíduo se questionar enquanto alguém errado, atípico ou excluído da sociedade que vive minuciosamente esta cultura, mais irá reforçar os sentimentos já existentes de frustração, auto cobrança e desvalorização consigo. Porém, quando questionada a cultura, poderá ser verificada que ela é irreal, fantasiosa e que portanto, não se aplica à realidade de ninguém, não totalmente.

A cultura de uma vida perfeita, sem desafetos, repleta de conquistas e planejamentos em todas as áreas da vida acaba promovendo construções de perfeição, quando na realidade, é humanamente impossível atingir todos os critérios de perfeição social simplesmente porque cada indivíduo é singular e por isso mesmo possui o seu próprio modelo de perfeição.

É por isso que nesta época pode ser mais positivo para as pessoas que possuem tensão pré fim de ano, manter o foco somente naquilo que faz sentido para si, naquilo que em algum momento dos outros dias do ano lhe colocou um sorriso nos lábios, lhe fez sonhar acordado, lhe motivou a continuar a caminhada pela existência. E isto é puramente particular, e muitas vezes pode não fazer parte dos critérios de perfeição social.

Então, no natal ou no ano novo, ao invés de comparar a sua felicidade ao do outro, crie os seus próprios critérios de perfeição dentro da sua própria realidade. Seja honesto consigo para identificar as próprias frustrações e se perdoar pelas situações que lhe fizeram mal. Você não precisa sair para fazer compras, nem colocar músicas natalinas na sua playlist, ou enfeitar a sua casa de pisca pisca se você não quiser. Você não precisa estar dentro do que é considerado perfeito socialmente, você somente precisa tirar o peso que estas datas representam para você particularmente e inventar o seu próprio modo de vivê-las. Pode ser assistindo a um filme, comendo sua comida preferida, rindo com aquela pessoa que lhe faz bem por ser divertida…

Tomar as rédeas da situação e assumir o modo como quer viver tais datas dentro da própria realidade é de extrema importância para atenuar as comparações e depreciações. Então, antes de se cobrar por não estar comemorando como as outras pessoas, reflita se você está em paz consigo, a forma como você vivenciará esta paz é somente uma consequência que precisa fazer sentido para você e ninguém mais.


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