Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta corporal e tanatóloga
Hei você que está tentando se enganar fingindo que desta vez será diferente, mas que no seu íntimo sabe e sente que começou como em todas as outras vezes: superficialmente.
Chora, chora sim. Este cansaço está crônico e precisa dar trégua para você conseguir respirar novamente. Você tem dado conta de tanto! E tem feito com tanta excelência que às vezes nem percebe que a perfeição se tornou MAIS UMA forma de fingir pra si que você não precisa da ajuda de ninguém. Mas essa lágrima solitária, este choro silencioso, este grito abafado somente denunciam o teu desejo de receber cuidado, de compartilhar o peso das dificuldades com alguém. Eu sei que se você passasse por uma cirurgia e se pudesse, pegaria o bisturi das mãos do médico e você mesmo se operava, não porque você acredita que faria melhor que ele mas porque você sente vontade de poupar todas as pessoas que querem e podem te ajudar a cuidar dos teus ferimentos, com ele não seria diferente.
Exagero meu? Então olhe para as vezes em que você sofreu solitariamente e não deixou ninguém saber, olhe para as inúmeras vezes em que você acreditou que era imortal e por isso poderia se colocar diante de riscos, e adoecer, olhe para os momentos onde você enfrentou chuva a noite numa estrada estranha e deserta e escolheu não ligar o GPS.
Dá medo confessar o desejo de receber amor e cuidado, principalmente quando estes desejos estão associados a culpa de precisá-los. Respira fundo e pensa um pouquinho: qual foi a última vez que você permitiu que alguém cuidasse de ti?
Pois é, faz tempo, e precisou doer intensamente para que isso acontecesse. Será que terá que doer daquela forma de novo para você deixar alguém se aproximar de ti?
Bom, essa é uma escolha sua.
Mas, te sugiro olhar para a tua história e identificar em qual momento você adotou esta postura autosuficiente a ponto de construir paredes em torno de si. Como foi que você aprendeu que é um erro precisar de ajuda? Sim, erro. Porque se a culpa aparece quando você pensa em se permitir receber um colo, então em algum momento você entendeu que isto era errado.
Você já foi criança e se você se permitiu receber cuidado, proteção e carinho, parabéns, você usufruiu do seu papel de filho ou de filha. Mas este papel não tem uma cota que se esgota, ela é vitalícia. Você poderá utilizá-la quando quiser, e agora é você quem escolhe de quem quer receber este amor. Há pessoas que só estão esperando pelo momento de poderem te dar colo, te fazerem cafuné, há quem só quer te dizer: “você não precisa fazer isso, não precisa retribuir”
Desta vez pode ser diferente, mesmo que a história tenha começado igual as outras. Quem sabe agora você possa substituir a superficialidade da autossuficiência pela entrega emocional com consciência.
Quem sabe, desta vez você se permita experimentar o gosto de receber sem precisar dar.