No cd player o Zeppelin chamusca meus pensamentos. Devaneio, como sempre o faço. O dia ardeu lindo naquele amarelo-ouro que só um sábado sabe ter. Há muito que se viver quando o frio começa a dar sinais de cansaço. A primavera se anuncia por entre os arrepios de gelo.
Vai-te inverno! Já entendemos teu recado! Que venha a vida rósea do amanhecer despontando em setembro! Que outubro me faça reviver o fim do cansaço anunciado pelo calor benfazejo do verão!
Ah, não, pobre poeta! Maldita seja toda esta matilha de torpes almas que ensanguam nosso país com sua verborragia aristocrática e elitista! Distila teu ódio no copo que te alimenta e despeja tua raiva no mijo e na merda junto com os vermes! São esses contumazes parceiros favoritos dessa escória infame que desmorona sonhos de dias melhores. Teu povo, poeta, sabe o que é sofrer de verdade e na realidade não existem princesas loiras beijando sapos.
Fujam playboys da moralidade para o alto de suas torres de maledicência! Tomem em suas mãos vossas taças de crueldade e entupam-se com o fruto de nosso suor diário! Que seus infernos regados a ouro e prata corroam seus olhos de mel aveludado!
Devaneio, outra vez…
De cima da ponte caminho por seu corrimão de pedra mirando as pedras roladas no rio abaixo. O burburinho da água atiça meu sorriso e juntos sorrimos, porém é o fel que corre em minhas veias e soçobra algum átimo de melancolia amalgamada à raiva que me alimenta no momento.
Se o fogo eu tivesse e seu poder manipulasse a tudo destruiria e caçoaria dos deuses por suas apostas findarem antes do dia. Boquiabertos me amaldiçoando e retalhando meu íntimo.
Eu sofreria e sorriria pela última vez. Nenhuma lágrima para amenizar a dor eterna. Apenas um dedo eriçado da mão e um impropério verbal conveniente ao momento.
E fim, assim.