E daí, José
Se o problema não é seu?
Se o mal-estar não lhe acometeu?
Se a doença em ti não vingou?
Se a tua boca não se calou…
Se calou, José?
E daí, José
Se não foi embora nenhum dos teus?
Se os que vivem ficam, vai-se embora quem morreu
Se a morte termina a vida, não há quem decida, José?
Adianta parecer forte e ter fraca a tua fé?
Acreditas ainda, José?
E daí, José?
Antes, há décadas, te perguntou Drummond:
“E agora, José?”
Os anos passaram, e tempo voou
E daí, te faz mal esse mundo, José?
Aquele mundo, já passou, muitos se foram, você ficou
E agora, José, te pergunto:
“E daí?”
E daí, José, quantos você já enterrou?
Quantos você já salvou?
Você já tentou?
Por quem você já chorou?
Você já chorou, José, por quem também ficou?
Você consegue ver, José, quem ficou?
E daí, se um pai perdeu o filho, José?
E daí, José, se o filho perdeu o pai?
E daí, José, se foi uma esposa, esposo ou amigo?
E daí?
E daí se você ri feito hiena, José?
Ah, José, e agora?
Drummond também já foi embora
E você?
Já pensa em ir, José?
E daí, José, onde estão tuas respostas?
Para essa cara morta, amorfa, ingrata
E daí, José, se as pessoas sensatas te ignoram
Te batem os tímpanos com revolta
E daí, José?
O bem estar alheio te incomoda?
Ou a pergunta bem feita te causa repulsa
E você, José, de maneira estulta
Crava tua rasa educação com as palavras
Que apodrecem em tua boca…
E daí, José?
Toda essa conta não cabe no teu colo?
E daí, José, se te transformarem em piada?
Há algo mais em ti que ainda valha?
Ou te resume nessa verborragia
Mal intencionada?
José, e daí?