Apesar da derrota por 3×2 diante do Fluminense, no jogo de estreia do ano, é inegável que a primeira impressão deixada pelo Criciúma na temporada 2017 foi boa. Compactação, disposição tática bem definida e proposta de jogo executada foram alguns dos pontos positivos do time comandado por Deivid.
O primeiro fator que me chamou a atenção foi a questão tática. Imaginava ver o time em campo no 4-2-3-1, com Alex Maranhão pelo centro, municiando os ponteiros Pimentinha e Pitbull. O que foi visto em campo no primeiro tempo, porém, foi um 4-1-4-1 bem interessante, colocando Barreto entre as linhas e Dodi ao lado de Alex Maranhão. Isso fez com que o camisa 8 criciumense pudesse atuar mais avançado sem a bola, potencializando uma de suas grandes virtudes: o desarme.
Sem a bola, este 4-1-4-1 armado por Deivid deixou Barreto mais protegido por duas linhas de quatro e mais atento as coberturas necessárias. Na etapa final, o sistema tático aparentava mais ser um 4-4-1-1, com Alex Maranhão mais desgarrado da linha de meias – talvez até por cansaço. Em minha visão, o rendimento da equipe caiu após essa mexida tática, tendo em vista que as duas linhas acabaram se amontoando perto da área.
Só que mais do que o sistema no papel, chamou a minha atenção o comportamento em campo do time. Balão só quando necessário, bola no pé e sem afobação na definição de jogadas. O Criciúma foi uma equipe mais cerebral e menos errática nessa estreia. Isso explica a posse de bola de 60% e os 90% de aproveitamento em passes (números do Foot Stats).
Gostei também da atuação dos ponteiros, especialmente Pitbull, que teve muito fôlego no flanco esquerdo e soube a hora de penetrar na área e ir a linha de fundo com precisão. Além disso, o atleta de 27 anos foi importante taticamente, quando fechou o lado do campo e deu poucas brechas ao lateral-direito Renato, que tem boa subida ao ataque.
O estreante Pimentinha teve uma aparição inconstante. Criou boas oportunidades pelo lado direito e não deu sossego a Léo Pelé, porém, demonstrou aquelas velhas deficiências nos fundamentos que citei na coluna passada. Errou muitos passes e cruzamentos e apresentou dificuldade na tomada de decisões. Como já citado, é algo a evoluir, assim como a recomposição, que foi bastante falha no flanco direito.
Claro, por se tratar de uma estreia, Deivid ainda tem alguns pontos a ajustar, começando pela defesa. Jogar com linha alta é interessante, ajuda na compactação do time e na transição mais veloz, mas o que foi visto em Juiz de Fora foi uma defesa meio perdida no próprio posicionamento, com uma linha desajustada. Não foram poucas as vezes que os atacantes do Flu penetraram entre as linhas defensivas carvoeiras e ficaram frente a frente com o goleiro Luiz. Jogar com linha alta exige uma carga alta de responsabilidade e Deivid precisa entender e ajustar o sistema, especialmente na aceleração da transição defesa-ataque.
Também me decepcionei com a atuação da dupla de laterais. Maicon Silva teve uma atuação pavorosa, tanto ofensiva, quanto defensivamente, enquanto Marlon voltou a pecar na defesa e teve uma aparição discreta no ataque – apesar da assistência para o gol de Hélio Paraíba.
Jheimy foi outro abaixo dos demais, não à toa, foi o primeiro a ser sacado da equipe. Deivid já deve, inclusive, estar revendo a situação dele no time titular, tendo em vista que Kalil, que entrou em seu lugar, foi deslocado para a faixa esquerda, fazendo um dueto interessante com Pitbull, que ficou na função de Jheimy no ataque.
Num modo geral, não foi uma derrota catastrófica – longe disso, aliás. O Criciúma teve uma boa atuação e já demonstra ter uma cara bem diferente da que era vista com Roberto Cavalo nos últimos anos. Agora a expectativa é pela sequência. Deivid tem poucas peças de reposição e isso deve ser um empecilho para fazer o time engrenar de vez. Ao menos mostrou que a equipe segue por um caminho lúcido.