O que faz um esquema tático ser ofensivo ou defensivo? Com certeza não é a quantidade de atacantes ou volantes que são escalados. Este é um erro muito comum quando se é feita uma análise tática, e tenho observado muito disso no Criciúma.
Desde que chegou, o técnico Deivid vem escalando o Tigre no 4-3-3, variando pro 4-1-4-1. O senso comum nos faz dizer que é um time ofensivo, afinal de contas, são três atacantes. Entretanto, independe disso trazer essa afirmação. Essa ofensividade depende única e exclusivamente da forma como os jogadores estão distribuídos em campo e quais as funções que vão exercer.
É por isso que é errado afirmar que, por exemplo, jogar com três atacantes é “ofensivo”, assim como jogar com três volantes é “defensivo”. Você pode ter uma trinca de ataque que seja pouco participativa na construção de jogadas e seu time crie pouco, assim como pode ter uma equipe com um tripé central de muita intensidade e dinamismo, que o torne dominador dentro de uma partida.
O exemplo mais clássico disso foi o empate por 1×1 entre Criciúma e Fluminense, na última quinta-feira (9), pela terceira fase da Copa do Brasil. Durante boa parte da semana, parte da imprensa e a própria torcida discutia se o 4-3-3 de Deivid não era ofensivo demais para encarar uma equipe tão forte quanto o Flu. O que se viu em campo era de que essa discussão teve viés errado.
Deivid alterou o sistema tático. O 4-1-4-1 anterior, que tinha Barreto posicionado entre as linhas de defesa e meio-campo, foi mexido para um 4-4-2, com Alex Maranhão mais solto e próximo de Pitbul. Isso possibilitou compactação maior entre as linhas e marcação mais forte.
Em momento algum a equipe se mostrou exposta por estar no 4-3-3. Se na sua visão o time se mostrou exposto além da conta, pode ter certeza que não foi pelo esquema tático, mas sim pelo sistema de jogo, pela forma que a equipe se propôs a jogar.
O esquema tático, na verdade, trata-se apenas de uma base ou um esqueleto da disposição do time em campo. O que, de fato, determina a ofensividade de uma formação é o sistema de jogo, a maneira que se dispõe a jogar, e isso não pode ser analisado apenas olhando a escalação e vendo que tem X jogadores de uma posição e Y jogadores de outra. O futebol atual cobra dinamismo e versatilidade, com a execução de variadas funções. Olhar a ficha técnica não determina suas características, tampouco a função que vai exercer.
Essa confusão entre esquema tático e sistema de jogo precisa ser desfeita e quebrada de nossa mentalidade. Isso faz com que quebremos velhos preceitos e possamos evoluir na discussão de um jogo de futebol.
PS: Para acrescentar ao debate, trago um material do comentarista Elton Serra, jornalista na Bahia. Em seu canal no YouTube, ele amplia esta discussão com o vídeo “Função, posição e as distorções na análise” . Confira o vídeo aqui.