Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta corporal e Tanatóloga
O que a forma como você lida com os términos diz sobre você? Tá, sei que desta vez eu comecei com uma pergunta difícil, mas é que gostaria de chamar a sua atenção para aquilo que você experimenta quando a despedida se torna uma realidade.
Estes dias eu ouvi um paciente dizer algo que me fez pensar nas armadilhas que a nossa mente desenvolve para nos poupar de uma dor, no caso dele, a defesa era a racionalização. Ele, sentado na minha frente, inclinado para frente, com os cotovelos apoiados nas próprias pernas e as mãos entrelaçadas sob a nuca disse: “eu fico em dúvida se eu realmente a amo ou se eu só não sei lidar com os términos…”
Naquele momento eu expressei o meu respeito pela dúvida que o angustiava, e perguntei que diferença faria na vida dele ter uma resposta para aquele dilema. Ele se recostou na poltrona, balançou a cabeça, sorriu e me disse: “Como se uma coisa viesse separada da outra, né?”.
É!
Amar o amor, amar o outro, amar a companhia, amar o cheiro, amar ter uma distração para não estar consigo, ainda é amor. É tudo amor, ou fuga, ou afeto, ou tudo isso junto. Mas igualmente importante o suficiente para causar dor quando se desfaz. Aquele que ama estar amando sofre quando se vê distante deste sentimento, aquela que ama a companhia que o outro a proporciona sofre quando esta companhia decide ir embora, aquela que ama o cheiro que o outro traz na roupa amassada também sofre quando este cheiro fica cada vez mais longe, e igualmente sofre aquele que não suporta a própria companhia e utiliza de uma relação conjugal para escapar de si mesmo, e a perde e precisa então se deparar consigo.
Se despedir daquela parte que traz algum sentido para a nossa vida nos faz conectar com lutos não elaborados e geralmente um tanto quanto primitivos. Quantas vezes você já se sentiu injustiçada diante de um término? Ou ainda, quantas vezes você se deparou com uma raiva insana ao se perceber vivendo o fim de uma relação? E a tristeza que aparece quando o “adeus” é verbalizado e que parece que vai tirar toda a sua energia? É muito provável que estas reações tenham despertado lá atrás, nas primeiras vezes que você se despediu de alguma forma de amor.
Doeu e dói porque se deparar com a ausência de um sentido, de uma fuga, de um suporte, nos aproxima das nossas verdadeiras feridas. E quem é que gosta de estar cara a cara com elas, não é mesmo? Principalmente quando elas são antigas. Ou seja, a forma como lidamos com a despedida dos nossos amores, sejam eles quais forem e pelos motivos que forem, falam muito sobre cada ferida emocional que carregamos conosco e sobre a forma que aprendemos a lidar com elas.
Mas saber disso não significa que não podemos sentir tristeza, raiva, injustiça ou qualquer outro sentimento ou emoção, mas nos implica em saber como cada um de nós poderemos vivenciar o término de uma relação com mais consciência e percepção para evitar desenvolver um mesmo papel diante de uma despedida ou ainda, para reconhecer o papel que estamos constantemente desempenhando e entender como, quando e porque ele surgiu.
A forma como contamos uma história diz muito sobre como nos vemos e sobre a mensagem que desejamos passar, e a forma como vivenciamos os términos também. O fim de uma relação pode ser dolorido, mas não precisa vir carregado de outras dores passadas que não foram elaboradas e por isso se acumularam.
Te sugiro perceber como você se trata quando o fim se estabelece, e quem sabe, descobrir um jeito saudável de lidar com ele. Se sentir que precisa de ajuda, procure auxílio psicológico. Este passo poderá ser o ponto de partida que você precisa para abandonar antigos padrões.