Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta corporal e tanatóloga
Como te ensinaram o que é o amor não é necessariamente a forma com que você se sente amada. Sabia disso?
É muito comum que dentro de um processo terapêutico o psicólogo perceba que o paciente precisa aprender a identificar e conceituar aquilo que sente para que possa desenvolver autoestima e principalmente, para se reconhecer como alguém no mundo. E em uma dessas sessões de identificação emocional eu perguntei a uma paciente o que era amor para ela. Ela me olhou surpresa e disse que amor é querer bem o outro independente deste outro te querer bem. Bem, o que eu e ela percebemos é que ela havia tirado essa resposta de um livro de poesias e que este bonito conceito não era verdadeiramente dela, mas fora pego emprestado, logo, a sua resposta era racional pois tinha base no intelecto e não nas emoções.
Antes de eu continuar a nossa conversa, faça uma pausa e me conta uma coisa: o que é amor para você?
Agora sim, vamos lá! Veja bem, os livros podem tentar nos explicar os conceitos de cada sentimento ou emoção, e estes conceitos podem fazer sentido para quem lê mas isso não significa necessariamente que eles são autorais e que dizem respeito à nossa história.
Um outro engano ocorre quando crescemos acreditando que determinados comportamentos representam determinados sentimentos. Representam para quem? Vou ser mais clara: quando um pai enche uma filha de presentes e dá à este ato o nome de amor, ele estará ensinando a esta criança que quem dá presentes os dá porque ama e que portanto, ganhar presente é sinônimo de ser amada. Mas será que todas as pessoas que dão presentes fazem isso porque amam o outro ou será que este pai estava falando somente sobre ele? E mais, este sinônimo foi dado por quem? E se as pessoas tem vivências subjetivas então como aquilo que representa um sentimento para um poderá representar o mesmo para o outro?
E sabe por que eu trouxe este assunto pra cá? Porque tenho observado pessoas com dificuldades em reconhecerem aquilo que sentem e também, pessoas aceitando aquilo que não as fazem bem porque aprenderam que aquilo era bom para alguém e que por causa disso, era óbvio que deveriam ser para elas também. E isto tem causado impacto negativo na construção de relações consigo e com os outros.
Cada ser humano possui uma linguagem própria de amar e de se sentir amado. Existem algumas linguagens específicas como dar e receber presentes, dar ou receber tempo de qualidade, elogios ou palavras de afirmação, gestos de serviço e dar e receber toques físicos. E conhecer a forma com que cada um de nós na sua individualidade reconhece o amor poderá ser fundamental para diminuir frustrações quanto àquilo que pedimos e que recebemos.
Isto significa que a construção de conceitos sobre o que sentimos precisa ser especialmente particular e possuir sentido emocional para si, pois, o modo como aprendemos intelectualmente a reconhecer um sentimento pode não ser compatível com aquilo que sentimos quando o gesto nos é ofertado. Para você, ganhar um presente pode despertar uma emoção diferente daquela que o mesmo gesto desperta em mim.
Bem, queria com este texto te provocar a identificar aquilo que você sente e também, te dizer que é você quem atribui aos gestos os conceitos emocionais correspondentes àquilo que você sente.
E agora, mais uma vez: o que é amor para você?