Proporcionar acessibilidade, saúde, integração, bem-estar e igualdade aos deficientes dentro da praia e junto aos esportes são as propostas do Corpo de Bombeiros de Palhoça, na Grande Florianópolis e do Instituto Paulo Escobar (IPE), de Florianópolis. Sobre três rodas de uma cadeira flutuante, dois meninos com paralisia cerebral e dois com autismo chegaram até o mar, nesta sexta-feira, 27, na praia de Cima da Pinheira, em Palhoça. O medo da água e das ondas logo deu lugar ao sorriso de satisfação.
O projeto de utilização de cadeiras de rodas flutuantes nas praias de Palhoça começou em janeiro. Cinco cadeiras flutuantes foram adquiridas por meio de parceria entre a prefeitura e empresários e estão sob responsabilidade do Corpo de Bombeiros Militar.
O subcomandante dos Bombeiros da Palhoça, tenente Marcelo Pereira, explicou que até então eles atendiam os deficientes na praia, tiravam os cadeirantes e os colocavam em um flutuador para brincar na água, mas ficava cansativo para os guarda-vidas e cadeirantes. “Hoje, o projeto está surpreendendo pelo número de pessoas que nos procuram. Cada um tem uma história diferente. Não pegamos simplesmente a pessoa e colocamos na água, conversamos com cada um, e isso é muito importante. Sentimos a emoção deles ao entrar na água, o brilho no olhar e a satisfação. Muitos nunca tinham entrado no mar”, contou.
A atividade é realizada sempre às sextas-feiras, sábados e domingos, e as cadeiras estão distribuídas na Praia do Sonho, Ponta do Papagaio, Pinheira e Praia de Cima. Foram escolhidas as praias com águas mais calmas e com melhor estrutura para que o cadeirante consiga chegar ao posto de guarda-vidas com facilidade. Os bombeiros foram capacitados para a atividade, de forma a manterem a segurança do usuário.
Os meninos que tomaram banho do mar nesta sexta-feira são paratletas e participam de corridas com o acompanhamento do professor Paulo Escobar, do Instituto Paulo Escobar, que busca a inclusão de pessoas com deficiências por meio do esporte. Os treinos ocorrem uma vez por semana.
“O que eles mais gostam é estar próximos uns dos outros. Com o esporte e a inclusão, a autoestima melhora e eles ficam mais calmos e tranquilos. Não tem como dimensionar o sentimento de vê-los concluir uma etapa, uma atividade ou tomar um banho de mar como hoje. Eu me sinto mais humano. Eu tenho cinco sentidos e eles possuem alguma deficiência, então porque não proporcionar algo de bom para essas pessoas?”, relatou Paulo.
Benefícios
Tiago Ribeiro, pai do Guilherme, que tem paralisia cerebral, acompanhou o filho no banho de mar. “Guilherme começou há pouco tempo os treinos. E hoje estamos ainda mais felizes. É fantástico esse trabalho de inclusão, tanto nos esportes, quanto no mar, porque vemos que as praias não possuem acesso e que também não são muitas as pessoas que se dispõem a acompanhar deficientes nos esportes. Dessa forma, eles podem fazer as coisas básicas da vida. O Gui ama o mar e, muitas vezes, não temos meios de promover esse acesso”, diz o pai.
Viviane Laydner, mãe do Guilherme Laydner, que também possui deficiência cerebral, contou que o filho participa do projeto do IPE e adora essa socialização. “Ele se sente muito bem com integração e gosta de fazer amizades. É uma forma de inclusão. E o banho de mar é fantástico”, salienta.
“É muito gratificante realizar este trabalho. Além de estarmos aqui fazendo nosso serviço, estamos fazendo a felicidade de uma pessoa que talvez nunca veio à praia ou só ficava embaixo de um guarda-sol”, relata o subcomandante Marcelo Pereira.
O terceiro sargento dos Bombeiros da Palhoça, Claudio Luiz Andrade, disse que o sentimento de ajudar alguém é indescritível. “O brilho no olhar conta o que estão sentindo. É natural para quem tem a mobilidade, mas aquele que não a tem e entra na água, transmite a sensação de liberdade. A alegria é contagiante”, explica.
Também participaram do banho de mar os paratletas Nicolas Tonich e Mario Sandri Coutinho.