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A cidade invisível e a colonização das mentes

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Uma recente série brasileira da Netflix tem chamado atenção por visualizar um pouco do folclore de nosso país. Embora tenha um “olhar hollywoodiano”, aqui e ali ainda perpassa a estética do cinema nacional. Em ambos os casos podemos ver o esmero e cuidado em se criar uma narrativa que agregue conteúdo e que amarre o espectador.

A princípio trata-se de um bom experimento e nossa cultura carece disso, principalmente a cultura televisiva. Estamos cansados de telenovelas, sejam os dramalhões tradicionais ou as recentes produções religiosas. Em um caso ou outro, ainda precisamos nos dividir com o humor duvidoso. Cidade Invisível foge de todos esses estereótipos e, pela primeira vez, vemos o folclore nacional ser tratado de uma forma séria.

A abertura da série recorda-nos a inteligente série alemã “Dark“. O andamento da produção vai amarrando cada ponta e nos prende. Mas o que realmente incomoda? O que incomoda é a famosa “síndrome de vira-latas” que acomete a maioria dos brasileiros. Converse com qualquer pessoa e verás que o “importado é melhor que o nacional”. De roupas a agrotóxicos. A qualidade é medida muitas vezes pela origem do produto e não pela sua efetiva aplicabilidade.

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Comumente ouvimos as pessoas reclamarem porque filmes nacionais possuem muitos palavrões. Faça um exercício: assista filmes legendados e conte quantos “fuck” você vai ouvir (aposto que fuck você sabe ouvir…). É como se nós fôssemos tão puros que em nenhum momento expelimos boca a fora qualquer maledicência.

“Cidade Invisível” é feliz pela caracterização das entidades folclóricas ao contar suas origens, ainda que forma bem superficial, talvez deixando um gancho para a próxima temporada. O que entristece é ver comentários pelas redes desqualificando a obra por ser “nacional”. Esse abandono do que é nosso contrasta diretamente com um suposto patriotismo que, vira e mexe, é alçado à sociedade como salvação de nosso país. Num mundo globalizado como o nosso, o amor à pátria tende a ter inúmeros significados e caberia por si outro momento de discussão.

A filósofa indiana Vandana Shiva tem um livro intitulado “Monoculturas da mente” no qual ela destaca de início como os sistemas de saberes locais são suprimidos por outras formas de saberes, “importados”, reflexos da globalização, que age na cultura moldando conhecimentos e saberes e estimulando o consumo. Desde de criança somos embriagados com coisas que “vêm de fora” e aos poucos vamos aprendendo que aquilo que é nosso é ruim e o que o Tio Sam nos empurra, por exemplo, é bom. Colonizamos nossas mentes e almas com um único produto a nos convencer a consumir ideias e ideais, bens e serviços.

“Cidade Invisível” já merece o nosso olhar por apresentar para o povo aquilo que o povo deveria saber de cor e salteado, sua, a nossa, própria cultura. Quem sabe assim podemos ver outras produções que valorizem mais aquilo que já é nosso, como os diferentes sotaques desse imenso país, nossas lendas, nossa literatura, nossa gastronomia. Essa invisibilidade me recorda a mensagem principal de outra série, dos EUA mesmo, “Deuses americanos”, que baseia-se num livro homônimo. A mensagem é direta: “Deuses são reais se você acreditar neles!” Nossa cultura e folclore precisa que nós acreditamos mais, em nós, em nossos mitos e crenças, que valorizemos nossa língua e saberes, nosso modo de ser, buscando sempre sermos melhores. Ou isso ou nos tornaremos por completo invisíveis no meio de uma globalização cultural que a tudo assimila.


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