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Carnaval: quando excessos escondem carências

Jéssica Horácio de Souza

Jéssica Horácio – CRP 12/14394

Larissa Tancredo – CRP 12/1435

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Verão, férias, carnaval. Uma grande parte dos brasileiros adora esta época do ano. Estamos acostumados com a frase: o ano começa após o carnaval. É como se desde o período do natal até a passagem deste feriado estivéssemos em um outro mundo, vivendo uma outra realidade. A verdade é que a permissividade toma lugar da responsabilidade e do comprometimento nesta época do ano. É um período, pelo menos no Brasil, onde tudo pode desde que traga prazer. Porém, acompanhada da permissividade vem a impulsividade, capaz de fazer a pessoa não pensar antes de agir.

A impulsividade é uma característica comportamental que está muito presente nas festas de carnaval pois, é típico deste evento a busca por satisfação dos desejos e a procura constante de prazeres momentâneos. É como se tudo fosse permitido e nenhuma regra ou moral existissem.

Este é sem dúvidas o período do ano em que as fantasias saem literalmente do armário e começam a fazer parte de um mundo real. Não há limites para os desejos, o princípio seguido é: “sinto, logo ajo”. Não há filtros para a seleção de quais desejos podem ser satisfeitos de forma saudável, isso porque a crença que é fomentada pela cultura brasileira sugere que os itens obrigatórios no carnaval são os excessos. Na verdade, neste evento, os excessos são considerados sinônimos de felicidade. E claro, quando existem excessos, existe por trás deles uma tendência comportamental baseada nas insatisfações pessoais que por sua vez acionam imediatamente a impulsividade para suprir as várias formas de carências. É fato que a impulsividade vai contra tudo aquilo que é ponderado, analisado, questionado, contra tudo aquilo que é portanto, saudável.

Pessoas com estes comportamentos vivem um ciclo na busca da satisfação por meios impróprios. Primeiramente a pessoa começa a entrar em contato com a sua realidade particular que lhe gera insatisfação, esse contato com a realidade insatisfatória causa um grande desconforto e a pessoa passa a buscar meios para suprir essa sensação, é aqui então que entram os excessos, seja com compras sem propósitos, inserção de bebidas alcoolicas e /ou trocas de parceiros. Embora inicialmente esses comportamentos tragam sensação de alívio e bem estar, eles não proporcionam saciedade e é este o perigo dos excessos enquanto mecanismo de fuga das carências. Consequentemente surgirá o sentimento de frustração maior ainda fazendo com que esta pessoa permaneça neste ciclo na tentativa de aliviar os sintomas da sua insatisfação.

Assim, como consequência da impulsividade surge a irresponsabilidade, afinal, quando não há filtros para a distinção do que é permitido ou saudável, todos os atos são baseados e regidos pelo princípio do prazer. Este princípio foi desenvolvido por Freud que considerava que todo indivíduo possui três estruturas psíquicas que orientam os seus atos: ID, EGO E SUPEREGO. Em resumo, o Id corresponde a estrutura psíquica que é norteada pelo prazer, logo, todas as pulsões não são controladas, elas são imediatamente sanadas, o prazer é quem manda. Já o superego possui como característica as normas, é ele quem censura, quem limita, estabelece regras, proibições e punições.

Finalmente o ego se caracteriza por representar o contato do indivíduo com a realidade, é através do ego que o indivíduo analisa se é preferível atender as pulsões do ID ou as ordens do Superego. No carnaval, a estrutura psíquica que entra em cena é sem dúvidas o ID, ou, o princípio do prazer. Este princípio tem por característica, momentaneamente causar satisfação e picos de euforia, contudo, não sustenta esse estado por muito tempo, a tendência é quando em contato com a realidade, se frustrar e fugir das responsabilidades buscando obter prazer constantemente, como também, perceber as consequências dos atos impulsivos que muitas vezes trazem prejuízos significativos para toda a vida, constatando então que a vida não é um eterno carnaval.

Por isso é tão comum que algumas pessoas apresentem grande dificuldade de retornar das férias e de iniciar o ano após a quarta feira de cinzas. O contato com a realidade demarca um fechamento de um período extremamente prazeroso: férias, verão, praia, bebidas, múltiplas relações instáveis… E obriga o indivíduo a se adequar ao seu contexto real: horários a cumprir, rotina agitada, contas a pagar, problemas para enfrentar.

É importante salientar que todos estes comportamentos impulsivos podem trazer algum tipo de “ressaca moral” no final deste período de festa, uma vez que as pessoas são obrigadas a voltar a rotina, ao seu mundo real. Outro fator importante e que pode surgir após este período de diversão é a culpa, pois o indivíduo pode vivenciar as consequências de suas atitudes impulsivas: problemas de saúde devido ao abuso de susbtâncias químicas, gravidez indesejada, excesso de contas a pagar, dívidas, rompimentos de relações…

Para sair deste ciclo de carência-insatisfações-excessos-frustrações-compulsões, é necessário o desenvolvimento de maturidade que é conquistada através do autoconhecimento. A psicoterapia é uma grande aliada para o aperfeiçoamento do ser humano, abrindo caminho para que este vivencie a próxima temporada com mais plenitude e responsabilidade sem precisar negar a sua realidade, e permitindo que o indivíduo utilize as fantasias somente enquanto adereço e não como alicerce da sua personalidade.


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