Visitando uma pagina de rede social, fiquei surpreso ao deparar-me com uma campanha para a implosão da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. Dos vários argumentos, umas das justificativas seria o fato da obra ser muito velha, dando muito gasto ao poder público para mantê-la de pé, que esse dinheiro poderia ser aplicado em outras necessidades mais significativas, tipo educação saúde etc., incluindo o fato de atrapalhar a mobilidade urbana na capital.
Cabe ressaltar, que a inauguração da ponte Hercílio Luz, deu-se em 13 de maio de 1926, e que acabou com um antigo sofrimento dos então 40 mil habitantes de Florianópolis de depender de balsas para atravessar da ilha ao continente ou vice-versa.
Portanto, hoje ela (ponte) encontra-se “velha”, mas em tempos passados foi uma grande obra que determinou aquilo que de mais moderno poderia existir em termos de arquitetura para alavancar a mobilidade urbana na capital, e por conseqüência elevar Florianópolis ao rumo da modernidade e progresso ao qual testemunhamos nos dias atuais.
Notem que, aquilo que a sociedade catarinense, ou mais especificamente os habitantes da ilha, desejavam naquele momento histórico em se tratando de “conforto urbano”, a ponte Hercílio Luz veio para solucionar aquele problema. E hoje, a ponte para alguns não passa de um monte de ferro velho, ou seja, outro problema.
Esse paradoxo entre o moderno e o antigo, é evidenciado por Berman (1986, p. 17), “a idéia de modernidade, concebida em inúmeros e fragmentários caminhos, perde muito de sua nitidez, ressonância e profundidade e perde sua capacidade de organizar e dar sentido à vida das pessoas. Em conseqüência disso, encontramo-nos hoje em meio a uma era moderna que perdeu contato com as raízes de sua própria modernidade.”
Pegando um gancho do autor, penso que é ai mora o perigo, pois perdemos as raízes de nossa própria modernidade, da nossa própria identidade, em outras palavras “estamos cuspindo no prato ao qual comemos”.
O começo da experiência de vivermos num mundo moderno, cronologicamente falando, deu-se no fim do século XV e inicio do século XVI. Depois disso, a história da humanidade experimenta um ritmo cada vez mais frenético.
“Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, ‘tudo o que é sólido desmancha no ar’” (BERMAN, 1986, p. 15).
Portanto, fica um alerta. Se continuarmos destruindo tudo aquilo que foi construído, e foi importante dentro do seu processo histórico, e que na contemporaneidade já não serve mais para seu fim de origem, estaremos destruindo nossa própria identidade, nossa cultura, nosso passado.
Se continuarmos destruindo tudo ao nosso redor, não saberemos mais quem somos, de onde viemos e o pior, para onde vamos. Dentro desse contexto, a ponte Hercílio Luz, merece nosso respeito, nossa gratidão, pois se o Estado de Santa Catarina e consequentemente Florianópolis vivem nesse nível de desenvolvimento, devemos muito a ela.