Intitulei esse texto de “A Microfísica da Corrupção” intencionalmente, para fazer uma alusão ao livro “A Microfísica do Poder”, do filósofo Frances Michel Foucault. Na obra o autor esmiúça as relações de poder em todas as esferas sociais. A proposta foucaultiana vai, justamente, no sentido de afirmar que os poderes. “Não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social. Funcionam como uma rede de dispositivos ou mecanismos a que nada ou ninguém escapa, a que não existe exterior possível, limites ou fronteiras” (FOUCAULT, 1993, p.16). Se transportarmos essa análise para as questões da corrupção no Brasil, talvez iremos entender um pouco mais do que estamos vivenciando e que tantas vezes nos indignamos aqui na terra “tupiniquim”.
Os corruptos que aqui se fazem não vieram de outro País, ou de outro planeta. Eles estão inseridos no seio da sociedade que os produziu, ou seja, ninguém nasce corrupto, ao contrario, internalizamos essas atitudes no decorrer de nossas vidas, aprendendo e reproduzindo práticas culturais e históricas daquilo que a sociedade nos oferece.
Se fizermos um resgate histórico, (mesmo que generalizado), entenderemos com mais clareza o embrião da cultura da corrupção no Brasil. Desde os primórdios de nossa colonização, as relações que aqui se estabeleciam eram um tanto quanto que “promiscua”, ou seja, de forma desordenada, sempre alguém querendo levar proveito em cima do outro, pois éramos uma Colônia de exploração, pois, “O colonizador veio para a Colônia para mandar e enricar, não para se dedicar ao trabalho” (GOULART, 200O, p.06), e essas práticas se estenderam aos dias atuais. Ou seja, para compreender a corrupção é preciso uma análise de seu funcionamento diário ao nível das micro práticas, que por conseqüência irão acarretar as macro práticas. Dessa forma desde o famoso “jeitinho brasileiro” até os bilhões de propinas pagas por favorecimentos em licitações estão intrinsecamente ligados. A diferença vai ser a oportunidade desse, ou daquele indivíduo, de cometer tal ato (micro ou macro), dentro da posição que ocupa na sociedade.
O que fica para refletir é a seguinte questão. Não devemos nos orgulhamos de estar inseridos nessa “teia” social no que tange as questões da corrupção. Mas nem tudo esta perdido, não existe sociedade estática, portanto, estamos em constantes transformações, e se aprendemos a ser corruptos, também podemos aprender a não ser, o fato é não delegar a culpa aos outros, e sim fazermos uma análise introspectiva e respondermos a seguinte pergunta; o que temos a ver com a corrupção?