As boas aparições individuais de Douglas Moreira, o Dodi, mediante a um cenário melancólico e de pobreza técnica coletiva do Criciúma fizeram surgir um debate: o dono da camisa 8 do Tigre teria potencial para atuar mais avançado, na linha de armadores?
O técnico Roberto Cavalo e o próprio atleta já foram indagados a respeito disso. É uma discussão válida, principalmente pelo momento nebuloso do clube, marcado por vendas de atletas importantes, demora na remontagem e tropeços que o distanciam da briga pelo acesso à primeira divisão. O momento é de procura por soluções e essa mudança no posicionamento de Dodi parece ser uma das alternativas para alguns analistas. Não é meu caso.
O camisa 8 criciumense se notabiliza por algumas virtudes essenciais para quem atua na faixa central: desarme, boa condução de bola e decisão na jogada final. É por isso que o considero o jogador mais importante do Tigre nesta temporada. No futebol atual, um centrocampista capaz de cumprir as funções defensivas e articular a saída ofensiva é de vital importância para a dinâmica do time e Dodi o faz com precisão.
O site Foot Stats aponta que ele é o líder em desarmes no Criciúma, com 61 roubadas de bola, sendo o quinto na Série B inteira. Ou seja, Dodi tem uma média de pelo menos três roubadas de bola por partidas. Dos 20 jogos que fez na competição, em 16 não errou um desarme. É um número espantoso e que mostra sua importância para o time.
Só para termos comparativos, Barreto e João Afonso, que são os concorrentes imediatos, roubaram 24 bolas cada, nem metade do que Dodi já desarmou. Cabe contextualizar que Barreto fez 15 jogos e João Afonso atuou em 13, mas ainda deixa a média de ambos baixa (1,6 e 1,8, respectivamente).
Avançar Dodi não é uma opção que me pareça ser das mais inteligentes. Não vejo como algo vantajoso abrir mão de seu potencial de desarme e transição para apostar em um posicionamento mais próximo do gol. Além disso, não há no elenco outro atleta com características semelhantes.
A impressão que fica para mim é de que esses burburinhos pedindo Dodi mais avançado são precipitados e até mesmo desconectados com o futebol atual. Lembrem-se: futebol é ocupação de espaço. Aparecer na frente para marcar gols ou ao menos finalizar é algo natural e obrigatório para quem atua no meio-campo. Dodi, aliás, tem o diferencial de receber a bola de frente para os marcadores, tendo uma visão mais ampla do jogo.
Mais avançado, muitas vezes receberá de costas para eles. Lembrem-se também: os armadores atuais não jogam mais na frente da área, mas, sim, nas linhas defensivas, observando o campo com mais amplitude. O camisa 8 é o responsável por fazer isso e é o sopro de alívio na meia-cancha criciumense.