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Assistir ou não a Copa do Mundo?

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Sou um cara chato e ponto final. E quem não é, não é mesmo? Só espero não me tornar um velho ranzinza e reclamão e, talvez, o primeiro passo para evitar que isso aconteça é justamente reconhecer a própria chatice de ser. Beleza, não é? E o que isso tem a ver com a copa do mundo? Bora lá!

A última copa que acompanhei foi a de 1994 e o tetra do Brasil. Eu tinha então 13 anos e os problemas do meu mundo estavam mais voltados à escola e basicamente se resumiam a isso. A copa era algo absurdamente gigante para nós meninos e eu até usava uma camiseta verde e amarela de que muito me orgulhava! No ar rolava aquele lance de que seríamos campeões, depois de 24 anos sem erguer a taça. Era vez da minha geração e realmente foi uma festa. Sempre digo que o gol mais lindo até hoje foi do Branco cobrando aquela falta do meio campo contra a Holanda nas quartas de final, acho que isso.

A copa de 1998 já conheceu um outro eu: 17 anos de idade, encerrando o Ensino Médio (na época era chamado de Segundo Grau), trabalhador com carteira assinada na indústria pesada de artefatos de cimento. Concreto o dia todo. Ter que acordar cedo e enfrentar o frio por causa de um jogo de futebol me deixava enraivecido. Apesar de amar jogar bola com os amigos de infância, coisa que fizemos até 2009, eu passei a desgostar fortemente do futebol televisionado. Quatro anos separavam um menino de um trabalhador, tempo para ocorrer uma guerra mundial, por exemplo.

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Lembro de uns versos no livro de português do terceirão: “Minha terra tem palmeiras, Corinthians e outros times, de copas exuberantes e tantos outros crimes”. O autor me foge agora, porém, esse pensar já evocava os ares de quem eu estava me tornando (olha a doutrinação…hahahahahahahahaha). Outras leituras me faziam repensar sobre o papel do esporte num país que passava por crises e mais crises econômicas. O fato de as eleições serem em anos de copa de mundo pesava na minha consciência de alguma forma. Quatro anos entre uma copa e outra, quatro anos entre um menino e um eleitor/trabalhador…

A copa de 2002 foi na mesma vibe, digamos, e só assisti mesmo a final contra a Alemanha. Primeiro porque toda a família estava reunida e porque era a fase dos Ronaldos. Segundo porque era contra a Alemanha. Minha professora de português sempre me dizia que eu odiava alemães e ela era descendente de alemães. Tadinha dela, cometendo o mesmo erro que muitos de nós ao julgar alguém, mas faz parte. Mal sabe ela o quanto leio de autores alemães…

De lá para cá o único jogo que assisti completo foi em 2014, da Itália contra a Inglaterra e nem tenho certeza disso. Refletindo agora a pouco, uma ficha caiu aqui e tilintou: sofro do mesmo mal que todo mundo sofre, a nostalgia. Repito várias e várias vezes que “vivi a época do Romário, Bebeto, Dunga, dos Ronaldos, quando tínhamos jogadores de verdade e blá, blá, blá”… É, não sou o único que não gosta do Neymar, desde o nome dele até o fato dele ser jogador da seleção ou mesmo o fato do Galvão ficar dizendo “deixa o menino jogar”. Não gosto, nunca gostei e nunca me esforcei. Esse é o ponto. Aí me vem tudo isso na cabeça, o fato de eu ser chato, de não querer ser ranzinza na velhice e o fato de haver uma baita nostalgia guiando meus sentimentos. É preciso repensar tudo isso.

O futebol é o ópio do povo? Sim, com certeza, mas não o é sozinho. E o que ganho eu em sala de aula sendo apenas contra o gosto popular? Só para contrariar meus alunos mais fervorosos que conseguem apenas perceber o futebol como a única forma de ascensão social possível? Quantos entre eles já me contaram que veem o futebol como o meio pelo qual poderão garantir às suas famílias um futuro melhor? Por que serei eu a ficar pisoteando seus sonhos?

Decidi então que vou assistir algum jogo da copa, claro, quando estiver em frente a TV e algum jogo estiver sendo transmitido, entretanto, não vou criticar tanto assim. Preferiria que fôssemos um país grande na tecnologia, na ciência, nas artes, reconhecido mundialmente como potência mundial que somos ou deveríamos ser. Não uma potência bélica, mas uma potencia exemplar, na educação, na preservação ambiental, na construção de um futuro melhor para todo nosso planeta.

Enfim, deixarei isso para a utopia que vive em mim e guia meus passos, meus erros e acertos. Quem sabe eu até olhe para nossa bandeira e suas cores acreditando que ainda representam nosso país, nossa pátria mais do que algum indivíduo apenas ou sua ideologia política da forma como foi transformada nos últimos quatro anos, principalmente.

Quem sabe até pendure uma bandeira do Brasil em minha casa escrito “É PRA COPA!”, quem sabe não. O que sei, é que ser chato pode ser bom, pode te levar a reflexões que outros não irão e até nos ajude a compreender para além da colônia cultural que ainda somos. E deixa o povo torcer pelo futebol. Algumas vezes é a única alegria que nos sobra, mesmo que em muitas mesas nem sobras nem migalhas existam mais. Infelizmente.


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