Foi-se o tempo em que para um time se entrosar fosse preciso repetir a escalação constantemente. O ritmo intenso de jogos e o calendário esdrúxulo proposto por CBF e federações, com uma bisonha pré-temporada de menos de duas semanas, são algumas das razões para que os técnicos mexam com frequência.
Além disso, o futebol evoluiu de uma tal maneira que os clichês “treino é treino, jogo é jogo” e “em time que está ganhando não se mexe” não existem mais. Treino é ambiente competitivo e dali se molda um modelo de jogo para aplicar com a equipe, independente de quem esteja na formação titular.
Para encarar o Guarani, pela 5ª rodada do Campeonato Catarinense, o técnico Argel Fucks, do Criciúma, promoverá simplesmente seis alterações em relação ao time que perdeu por 3 a 1 para o CSA. Marlon e Zé Carlos saem por suspensão (entram Enzo e Lucas Coelho); Nino dá lugar a Fábio Ferreira, que retorna de lesão; já Suéliton, Eduardo e Mailson entram nas vagas de Natan, Alex Maranhão e Nicolas, todos por opção técnica.
Aí vem o X da questão.
Argel não está mexendo por convicção. Ele está atirando pro céu para tentar acertar algo. No primeiro parágrafo cito que dentro de um modelo de jogo organizado, mexa-se quantas peças que for, o time seguirá com um mesmo padrão. No Criciúma, porém, a ideia é mudar esse padrão, como o próprio Argel admitiu em entrevista coletiva – o time que queria vencer o CSA de qualquer maneira vai “fechar a casinha” contra o Guarani.
A mudança de padrão já é vista no desenho tático. Do 4-1-4-1, Argel parte para o 4-2-3-1, voltando a ter dois volantes. Aliás, na primeira linha central, já há outra mudança fundamental de características. Liel e Jean Mangabeira, que já atuaram juntos por ali, não tem 75% de aproveitamento em passes certos, segundo Sofascore. Eduardo, que jogou apenas contra o CSA por 45 minutos, foi o quinto que mais fez passes e teve 97% de aproveitamento.
Com Eduardo, Argel provavelmente queira que o Criciúma consiga articular o jogo por dentro, sem depender tanto dos cruzamentos. O Foot Stats mostra que o Tigre é o segundo time que mais acerta cruzamentos, mas também o que mais erra na Série B. Apesar dos pesares, é a equipe que mais finaliza certo.
Além da notória falta de pontaria (três gols marcados até agora), falta, é claro, repertório ofensivo. Mas aí volta a tal convicção. Apesar de Eduardo poder acrescentar em passe, o pensamento de Argel parece ser “fechar a casinha”, fazer com que a defesa dos nove gols sofridos em quatro jogos passe em branco ao menos uma vez.
E aí volta o papo dos treinamentos. Argel é adepto dos encaixes individuais de marcação. Onde o adversário vai, o marcador vai atrás. Eu, particularmente, não gosto desse sistema, mas respeito quem utilize… Desde que dê certo. Não parece ser o caso do Criciúma, que tem sofrido gols em notórios “desencaixes” – o primeiro gol do CSA é um exemplo. Pode-se mudar quem for lá atrás, sair o Zé e entrar o João e mais uma meia dúzia, o sistema seguirá falho, independente de quem esteja lá.
Fora isso, estranha-me muito as decisões de Argel de um jogo para o outro. Por exemplo, Alex Maranhão foi de titular a nem relacionado. Andrew, que foi uma arma importante no estadual, virou uma das últimas opções no ataque. Mailson já foi de titular intocável a reserva não aproveitado dentro dessa Série B. Repentinamente, Eduardo vira opção para começar jogando.
Sem entrar no mérito das qualidades dos atletas, é a repentina mudança de convicção do comandante que incomoda. Em função disso, o jogo contra o Guarani preocupa muito. Não pelo adversário, tampouco pela fase terrível do Criciúma. Acredito, inclusive, que em condições normais, são dois times que se equivalem. Mas a falta de convicção de Argel me deixa com uma pulga atrás da orelha para esse jogo em Campinas.