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Ansiedade da irrealidade

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga

Tudo aquilo que não sabemos lidar acaba se tornando um monstro, já reparou? Acontece com a raiva, a tristeza, o medo, a ansiedade… Aos poucos vamos transformando essas emoções e sentimentos em vilões que precisam ser evitados, na verdade, criamos uma aversão à sensações que são completamente naturais e, humanas. O desconhecido tem esta característica: ele assusta e promove a hesitação ou a fuga.

Você sabia que sentir raiva só se torna um problema porque não aprendemos a aceitá-la dentro de nós? É que devido a moralidade repressora aprendemos que não devemos sentir raiva por ser um sentimento “feio”, o que acontece é que vamos reprimindo ela dentro de nós e por consequência, dando uma intensidade e dimensão maior ao que ela originariamente tem. Transformamos a raiva em agressividade, ao invés de pegarmos somente a energia mobilizante que ela provoca e utilizar em direção à nossa própria evolução. Ficar bravo é diferente de ser agressivo, entende? O mesmo vale para a tristeza, medo e ansiedade.

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Todos nós sentimos ansiedade, ela é um resquício da evolução do ser humano: era importante imaginar que um ruído na mata poderia ser indicativo da aproximação de um animal predador, só assim utilizaríamos de estratégias de defesa e ataque para garantir a nossa própria sobrevivência. Hoje a nossa realidade mudou, mas ainda trazemos a ansiedade na bagagem, afinal, continuamos necessitando proteger a nossa vida e bem estar. Mas hoje, a diferença é que lidamos com medos irreais, por não aceitarmos alguns sentimentos e emoções dentro de nós, construímos muitas fantasias em torno deles, e é óbvio que ficaremos ansiosos diante da possibilidade de senti-los.

As vezes, a previsão de um conflito, ou uma despedida, ou ainda a ideia de receber um “não”, nos deixa tão ansiosos quanto ter a própria vida ameaçada.

Mesmo que este sentimento habite naturalmente dentro de nós, quando ele não é aceito se transforma em uma patologia, ou seja, começa a trazer problemas importantes que nos impede de funcionar com saúde no nosso dia a dia. Há momentos em que a ansiedade está tão intensa que nos paralisa e provoca alterações fisiológicas que bloqueiam nossa capacidade de lutar – enfrentar – ou fugir.

Outro fator que tem contribuído para os transtornos ansiosos são as cobranças e pressões emocionais que são características marcantes da atual civilização, elas tem o poder de provocar o mal estar da ansiedade, afinal, estamos aprendendo que precisamos dar conta de tudo sempre, que precisamos ter controle de todas as situações, e que não podemos falhar em nenhuma hipótese. Como não sentir ansiedade com crenças tão cruéis como estas?

Se há 2 bilhões de anos atrás usávamos a ansiedade para não perder a nossa vida, hoje a utilizamos para não sofrer, para não sentir frustração, para não sentir raiva, tristeza… Aprimoramos a nossa ansiedade conforme fomos construindo significados para o nosso bem estar. Queremos nos prevenir de tudo o tempo todo.

Você já parou para se perguntar porque tem buscado se poupar tanto?

Talvez você responda: “porque não quero sofrer”.

E é por isso que te pergunto: sofrer por medos reais ou irreais?

Precisamos conversar sobre os nossos sentimentos, aprender a reconhecê-los e aceitá-los dentro de nós. Quanto mais conhecidos eles forem, menor será a intensidade da ansiedade ao lidar com eles. Ao invés de subestimarmos a nossa capacidade de se relacionar com o que sentimos, podemos assumir a nossa responsabilidade na descoberta das próprias emoções, afinal, pra gente se relacionar bem com algo ou com alguém, precisamos fundamentalmente conhecer com o que ou com quem estamos nos relacionando, e sobretudo, nos conhecer.


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