Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta corporal e tanatóloga
Você pede conselhos para conhecer um outro ponto de vista ou para reafirmar o seu desejo?
Algo que deixa os profissionais da psicologia clínica incomodados é ouvirem que eles em sua prática de consultório oferecem conselhos aos seus pacientes. O incômodo é justificável pois, embora a psicologia tenha evoluído em seu alcance social, esta ciência ainda carrega consigo estereótipos negativos e inverdades que a impedem de ser difundida com o respeito e a seriedade que merece. O problema é que ao associar conselho à ciência, se descredibiliza toda a neutralidade e impessoalidade do tratamento terapêutico, o que por si só é contrário à ciência.
Então vamos ao conceito da palavra conselho. Segundo pesquisas na internet, a palavra conselho diz respeito ao ato de opinar acerca de alguma ideia que lhe foi lançada, logo, aconselhar implica em acessar a própria subjetividade para levar o seu parecer àquele que solicitou o conselho. Amigos dão conselhos, familiares dão conselhos, colegas aconselham, já psicólogos e psicólogas, eles e elas levantam questionamentos que serão respondidos de acordo com a subjetividade do paciente. No primeiro caso temos alguém que se reflete em uma resposta através daquilo que deseja, acredita e pensa, e em outro temos alguém que estimula o indivíduo a se refletir na própria resposta a partir do contato com os próprios desejos, crenças e pensamentos. Entendeu a diferença?
Bem, mas o ponto em questão não é discorrer sobre as atribuições dos profissionais da psicologia clínica mas sim, sobre aquilo que buscamos quando solicitamos a opinião de alguém.
Agora que já sabemos do que se trata o conselho e que profissionais da psicologia não aconselham mas sim estimulam o próprio paciente a descobrir aquilo que quer, me diga uma coisa: o que é que você realmente está buscando quando pede conselhos a alguém? Ah! Mais uma pergunta: pra quem você costuma pedir conselhos?
Há quem peça conselhos numa tentativa de ser assertivo em uma decisão, há quem busque uma reafirmação daquilo que já está inclinado a fazer, há também quem acredite que o outro que aconselha conhece mais sobre o aconselhado do que ele mesmo…
O ser humano é plural e complexo e por isso cada um buscará nos conselhos apaziguar alguma angústia que o paralisa diante de alguma escolha. E tomar consciência das motivações por trás deste pedido poderá nos ajudar a ir adiante com o pedido, reavaliar a importância dele, abortar o ato de solicitar o conselho e até mesmo trocar a figura do conselheiro.
Ouvir pontos de vistas diferentes do nosso é um modo de ampliar a nossa visão de mundo e de problematizar a limitação do nosso olhar, então os conselhos podem ser relevantes. Mas, ser aconselhado é diferente de ser induzido, manipulado, desautorizado. Somos nós que decidimos qual peso dar àquilo que recebemos através do outro. Não precisamos seguir os conselhos que pedimos.
Se você solicitar conselhos a alguém que pensa de modo semelhante a você, bem, é provável que você só queira uma autorização ou aprovação sobre aquilo que pensa. Mas se você desejar ir um pouco além da aprovação alheia e querer ouvir outras perspectivas sobre o tema em questão, solicite um conselho de alguém que provavelmente tem uma visão de mundo diferente da sua.
Podemos aprender a olhar para a vida de forma mais ampla e isso não significa que seremos fiéis executando aquilo que ouvimos, mas sim que passaremos a considerar novos critérios para refletir acerca dos problemas que surgirem.