Num ano de retração da economia, o microcrédito teve papel fundamental na sustentação dos pequenos negócios em Santa Catarina.
A Associação das Organizações de Microcrédito e Microfinanças de Santa Catarina (Amcred-SC) informa que a maior procura por crédito, com juros mais baixos que os oferecidos pelos bancos, teve como resultado o crescimento de 30% em média no volume de recursos aplicados em operações de microcrédito realizadas pelas 17 OSCIPs (organizações da sociedade civil de interesse público) associadas. O número de clientes em carteira cresceu 22% em 2015, em relação ao ano anterior. O valor médio por empréstimo ficou em R$ 4 mil.
De acordo com a presidente da Amcred-SC, Isabel Baggio, que preside o Banco da Família, com sede em Lages, a busca por um negócio próprio foi uma alternativa num ano em que o número de trabalhadores desempregados cresceu e deve fechar em 8,4% da população economicamente ativa do país – em 2014, o índice foi de 6,9%, em 2013 foi de 7,4% e em 2012 registrou 7,5%.
“A dificuldade de acesso ao crédito pelo sistema financeiro tradicional faz com que os empreendedores busquem recursos no microcrédito para investir no negócio, melhorar a renda e superar o momento difícil”, explica Isabel Baggio. Para ela, o papel das instituições de microcrédito ganha ainda mais importância durante as crises, pois atua como um suporte para o crescimento dos pequenos negócios em Santa Catarina, estado onde esta modalidade de crédito está mais organizada e tem servido de modelo para outras regiões do Brasil.
A meta da Amcred-SC para o ano de 2016 é manter o ritmo de crescimento, tanto no volume de recursos emprestados, quanto no número de operações. Para isso, tem estimulado o investimento em novas tecnologias e o treinamento dos funcionários das associadas. Além disso, existe uma forte tendência de expansão da atuação das organizações de microcrédito para municípios no Rio Grande do Sul e Paraná.
O vice-presidente da Amcred-SC, Júlio Búrigo, que está à frente da Credisol – Crédito Solidário, de Criciúma, no sul do estado, avalia que o resultado de 2015 foi muito bom e que o aumento na inadimplência ficou dentro do esperado, considerando a conjuntura econômica. “Tivemos um crescimento médio na inadimplência, na ordem de um ponto percentual, variando de 2% para 3% ou de 3% para 4%, dependendo da instituição de microcrédito”, informa. “O importante é que estamos atendendo o pequeno empresário, formal ou informal, num momento adverso, para que ele possa seguir adiante e superar os problemas. O cenário de 2016 fortalecerá o papel das organizações de microcrédito”.
Preocupação com a inadimplência
Segundo o presidente do Banco do Empreendedor, Luiz Carlos Floriani, membro do conselho de administração da Amcred-SC, o ano difícil na economia exigiu um rigor maior na concessão de crédito, em razão do aumento no risco nas operações. Mesmo assim, o banco vai fechar o ano de 2015 com um crescimento de 10% no total de empréstimos, embora registre um avanço de 3% para 4% no índice de inadimplência – o que corresponde a 30% de aumento em relação a 2014. Um dos líderes no segmento do microcrédito em Santa Catarina, o Banco do Empreendedor tem sede em Florianópolis e é o maior operador do programa Juro Zero, com 11 mil operações que somam mais de R$ 30 milhões em empréstimos.
Também na avaliação do diretor executivo da chapecoense Extracredi, José Jacó Pivetta, o ano de 2015 apresentou bons resultados, mas fez acender a luz amarela do risco nas operações. Para superar essa dificuldade, Pivetta disse que a saída foi aumentar o número de operações, com valores mais baixos, a fim de diluir o risco. “A falta de políticas públicas para retomar o crescimento obrigou muita gente a recorrer ao microcrédito para se socorrer, não para investir no crescimento do negócio, o que não é nada bom”, disse. A Extracredi atua em 92 municípios, distribuídos em SC, RS e PR.
Central de Risco
O objetivo da Amcred-SC, que completará 10 anos em março, é consolidar a implantação do Projeto Inclusão Financeira, em parceria com o Sebrae-SC, que prevê a criação de uma central de risco para melhorar a qualidade do processo de concessão de crédito e prevenir o superendividamento.
O consultor da Amcred-SC, Pedro Ananias Alves, disse que em 2016 as organizações de microcrédito vão contar com uma Sociedade de Garantia de Crédito para atender a empreendedores que não tenham ou não queiram apresentar avalista, que será substituído pela fiança de um Fundo Garantidor. A Amcred-SC prevê ainda a realização de seminários para disseminação de boas práticas de governança corporativa e de oficinas para o aperfeiçoamento da gestão do desempenho social.