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Se custa a sua paz, é caro demais

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394

Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga

Pra algumas pessoas existe uma linha tênue entre descansar e se acomodar. Talvez seja por isso que muita gente resiste em pegar férias, para diminuir a carga horária de trabalho e de estudos, pra abdicar de alguns controles que as mantém seguras sobre a sua produtividade e ganhos. Eu me lembro de uma vez ter atendido uma mulher que por circunstâncias bastante complexas se via apenas enquanto mãe, certo dia sugeri à ela que se imaginasse diminuindo os seus investimentos com o filho e usando a energia que sobrava para movimentar outras áreas da sua vida, foi então que ela começou a chorar e me disse que se sentia paralisada com a ideia de diminuir seus esforços enquanto mãe e com isso promover algum tipo de sofrimento na vida do seu filho, ela não poderia conviver com a ideia de perder o amor do filho, então acreditou que o único jeito de garantir este amor seria viver exclusivamente para ele.

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É movido por este medo de sermos menos e também pelo medo de perdermos algo ou alguém que julgamos ser muito valioso na nossa vida, que nós nos enchemos de afazeres e de compromissos. Afinal, seguindo esta lógica, se sobrecarregar às vezes é o preço a ser pago para manter alguns tesouros na nossa vida.

Tem gente que contrai dívidas sob a ideia de agradar alguém ou um grupo, há pessoas que se desgastam fisicamente e emocionalmente para manter uma imagem de “herói” ou “heroína”; a verdade é que sem perceber,  todos os dias nós abdicamos de alguns desejos por acreditarmos que assim não sofreremos nenhuma frustração, pelo menos nenhuma que imaginamos que não conseguiríamos lidar.

É assim que ficamos obcecados pelo trabalho, exigentes com os estudos, compulsivos com dietas, compras e com um sorriso agradável congelado no rosto. É pelo medo da perda que nós nos movemos em muitos momentos, perda essa que nós construímos dentro da nossa própia imaginação e que vimos como solução para evitá-la um único meio: o do sofrimento, um meio de dor ao qual “podemos nos adaptar”.

Será? Bem, não poderemos diminuir os nossos investimentos neuróticos enquanto não conhecermos as motivações que nos levam a mantê-los na nossa vida. Estamos sempre barganhando algo: fazemos isso para receber aquilo, nos doamos aqui para não perder ali. Tudo bem, às vezes a gente se perde no meio das nossas próprias vontades, nós só precisamos nos atentar para não pagarmos um preço alto demais tentando manter algo ou alguém que talvez ficaria por vontade própria, e não porque tentamos segurá-lo perdendo a nossa paz.

Se custa a nossa paz, é caro demais.


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