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O óbvio também precisa ser dito, com amor

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394

Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga

Tem uma frase que me acompanha o tempo todo dentro do consultório e que eu repito pra mim mentalmente várias e várias vezes durante um e outro atendimento: “O óbvio também precisa ser dito”. Simples, prática, lógica, e, necessária.

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Nós resistimos muito em aceitar a finitude das coisas, a gente nega, finge que não está acontecendo, tenta passar por cima, teima, insiste, continua lutando por algo que nem existe mais. Quando se fala de relacionamento amoroso então… Aí complica tudo porque construímos crenças de que ele obrigatoriamente precisa ser pra sempre. O que é pra sempre sempre? Não sabemos, só queremos.

O mito do amor romântico traz na sua bagagem fantasiosa a ideia de eternidade, e que essa condição é a única forma de se afirmar que há amor. Bem, há quem viva dentro deste padrão relacional e procure incessantemente aquela relação que trará sentido para a sua vida, que oferecerá calma e a cura de todas as dores emocionais. Certamente são pessoas que apresentam muito mais dificuldade em lidar com os términos pois elas sofrem com tamanha intensidade que acreditam que falharam na missão de amar.

Aonde que a frase da qual faço um mantra entra? Ela entra quando o senso de realidade sai, ela entra quando a resistência para a mudança aparece, ou quando alguém me pergunta: “O que eu devo fazer para reconquistá-lo?” e eu digo: “Talvez ele não queira ser reconquistado”, ou, quando ouço: “Eu ainda planejo a minha vida com ela”, e eu respeitosamente falo: “Que eu saiba ela não te pediu isso”…

Todos nós e eu me incluo nisso, temos dificuldade em aceitar as obviedades da vida porque elas doem, expõem uma realidade que muitas vezes implica na desistência de uma luta, na aceitação que acabou, em tomarmos uma atitude racional e realista.

Fim é ponto final, e não vírgula. Ele precisa ser tratado como mais uma etapa experimentada e não como um fracasso ou incompetência. Quando insistimos em colocar vírgulas ou reticências, adiamos o fim, não da situação pois às vezes ele não depende de nós, mas sim o fim da nossa negação. Adiamos a elaboração da nossa dor, que nada tem a ver com não sofrer, mas sim com reconhecê-la e acolhe-la em prol da própria saúde física e emocional.

Mas, se a negação tem a ver com não querer ou conseguir enfrentar uma dor, então, podemos “prevenir” o seu aparecimento. Como? Nos conhecendo. Toda dor que não foi elaborada será potencialmente recalcada – ficará adormecida – e quando algum evento ameaçar acioná-la, o mecanismo de defesa da negação aparecerá. Então, para que consigamos aceitar as nossas dores e cuidar de cada uma delas com carinho e respeito precisamos identificar o nome de cada uma delas, ou, das mais importantes para a nossa mente. A psicoterapia é o método científico capaz de fornecer o autoconhecimento necessário para cada indivíduo.

Costumo dizer que o medo não sobrevive à uma boa dose de realidade, pois quanto mais conhecemos algo, menos fantasia construímos em cima daquilo, logo, a aceitação aparecerá.

O óbvio precisa ser dito e o que é necessário para o nosso desenvolvimento, precisa ser sentido. Pense nisso.


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