Wagner Fonseca, poeta, professor e blogueiro
Temos aqui um tema que parece não se esvaziar e aparentemente “chato” para muita gente falar/ouvir sobre isso. Postar fotos na internet já não é mais um fato interessante. Angariar a aprovação alheia ou mesmo a admiração dos nossos contatos também não comove como antes. O maravilhamento ocasionado pela “inclusão digital” ultrapassou os limites da banalização cotidiana. E nós não conseguimos mais fugir disso.
A internet perdeu o ar de novidade há bastante tempo e não é difícil encontrar quem já tenha escapado disso. “Não tenho facebook”, afirma um; “Até esqueci minha senha”, recorda outro. Alguns migraram para o instagram porque há menos discussão lá. “Só posto fotos”. Há quem tenha apenas o whatsapp por necessidade de comunicação ou questão profissional mesmo. É, a revolução digital está muito longe de atingir ou, melhor dizendo, agradar a todos. Porque atingindo cada um de nós é e os resultados são tão amplos quanto variáveis.
Não é difícil recordar as palavras de Max Weber quando afirmava que a intensa racionalização da vida levaria inevitavelmente ao desencanto do mundo. Somos muitas pessoas desencantadas que não conseguem mais se sensibilizar com o próximo. No passado não muito pretérito, a família ainda se reunia na sala para assistir novela, ao menos. A famosa cena dos Simpsons sentados juntos no sofá para assistir TV é algo cada vez menos comum. A ascensão dos smartphones contribuiu decisivamente para uma maior individualização do ser humano. A “hora feliz” agora sou eu com o mundo todo nas palmas de minhas mãos. Eu e o mundo todo, eu e ninguém mais.
Há quem diga que é possível utilizar essas tecnologias informacionais para o bem e o desenvolvimento de técnicas necessárias ou benéficas à inúmeras profissões. Isso é inegável no que tange à educação escolar, sem sombra de dúvida alguma. Porém essa mesma tecnologia que tanto nos aproxima e nos distancia em medidas iguais, tem seus efeitos mais perversos agindo de forma mais contundente sobre nossos adolescentes. Lembro-me que alguns erros de escrita aumentaram de grau absurdamente após a inclusão do celular no cotidiano. Observo palavras como “de repente”, “com certeza” e “o que” – este último principalmente – começaram a aparecer de forma errônea a partir do ano 2010 com uma frequência crescente.
Nossas crianças e adolescentes preferem largar a aula de educação física – pasmem – para ficar mexendo em seus celulares e de nada adiantar culpar apenas o professor. Da mesma forma que é inócuo culpar apenas os pais por deixarem seus filhos com a “babá virtual”. Estamos todos envolvidos por essa bruma midiática virtual e escapar dela significa voltar no tempo uns vinte anos, no mínimo, quando ainda poderíamos ser mais felizes (será que éramos?).
E por falar em felicidade, quem dentre nós se questiona o quanto todo esse mundo encantado tecnológico realmente nos faz feliz? Vale a pena refletir sobre isso (e tomar cuidado para não se descobrir mais um pessimista…). Nessa discussão, consenso será um pilar difícil de se conquistar.