Wagner Fonseca – poeta, professor e blogueiro
Não tem como ser diferente, todo ano é assim quando chegam os “quarenta e cinco” do “segundo tempo”. Ou melhor dizendo, quando o segundo semestre vai se despedindo. Pra puxar um monte de recordação pelos cantos da memória eu tô aqui caçando algumas das músicas da minha adolescência lá de 1995, mais ou menos…
Comecei com Raimundos e seu primeiro disco, mais adolescente impossível e foi justamente a adolescência que acabou por marcar o mês de dezembro e “abrir” nossas cabeças no mês de dezembro.
Primeiro você descobre lá atrás que o papai noel nem merece ter letra maiúsculas (sacanagem com a gente, não é?). Aí você descobre que não quer mais participar das festas de família, afinal, você já foi em tantas que se torna um saco (ah, rebeldia adolescente…). Então puxo pelas lembranças novamente: o primeiro emprego foi justamente quando você iniciou a preparação para se tornar adulto. Final de semana o que se quer é descansar (bem, nem sempre, afinal domingo tem San Rafael e no Natal sempre rola algum sorteio que nunca ganharás….).
E o Natal foi perdendo seu brilho quanto mais você cresceu e mais você aumentou a capacidade de seu HD interno (que já era vasto). Quando eu era menino, pensava como menino… Então cresci e perdi o menino dentro de mim. Virei pai de um menino que já trabalha e faz suas próprias contas. O tempo voou mais rápido do que eu e tanto se perdeu. Um suspiro de leve em homenagem a esse mundo envolto pela revolução digital que nos apanhou de choque. Aperto o botão do player. Uma música mais calma e mais cara da minha vontade: Pink Floyd.
Quando criança havia magia no ar, encanto e mistério. A magia hoje virou consumismo, como era antes também. Recordo-me da vez que meu presente de Natal foi um pacotinho de bolinhas de gude. Fiz um beiço, mas entendi os porquês de meus pais e tratei logo de ser feliz com meus amiguinhos e fomos brincar. O encanto do pisca-pisca que era colocado na figueira da cerâmica em frente de casa era o máximo. Naquela época nós tínhamos que acender as lâmpadas dos postes numa caixa de madeira podre onde ficava o interruptor geral e somente uns dez postes tinham lâmpada. Natal era outro nível. O mistério, por sua vez, perdeu-se em meio a um bilhão de teorias conspiratórias que povoam o youtube. Basta procurar a sua e enlouquecer de graça (mentira, porque a internet ainda é paga).
Dezembro é um mês complexo. Acabava a escola, saudades de alguns amigos que nunca mais veríamos por alguns anos. Depois, no emprego, a cesta de final de ano com chocolate, chester, vinho, essas coisas todas que nem se ganha mais. Dezembro, terminar o primeiro ano de faculdade, o segundo, terceiro, quarto, se formar, sentir saudades novamente dos amigos de quatro anos. Aí ficar desempregado. Quem foi professor ou professora e nunca ficou desempregado ou desempregada de dezembro a março, no mínimo, não sabe o que é ser act.
Aliás, dezembro é um mês que puxa minha profissão. Centenas de fotos de alunos e alunas que se vão todos os dezembros e nos deixam boas memórias, principalmente aqueles que se formam no ensino médio. Anos a fio conosco para depois se despedirem de nós. Misturo meu tempo de aluno com meu tempo de professor. Minha formatura no ensino médio completou vinte anos…
Dezembro é tão depressivo e tão mágico em medidas iguais. Férias, decimo terceiro salário, contas a pagar e sempre uma par de havaianas novas, churrasco ou alguma confraternização aqui e ali. É nossa massagem anual para segurar a onda do próximo ano que se anuncia. Daria para escrever um livro só sobre esse mês, porém, quem consegue não estar cansado até mesmo para pensar nessa época? Melhor recarregar as baterias, nada fazer e deixar o ano se esvair para termos a energia necessária do próximo recomeço.