Wagner Fonseca, poeta, professor e blogueiro
Todos os dias devemos nos perder um pouco, nos perder de tudo, nos perder no nada, perder-nos na imensidão do vazio que completa o tudo de nossa vida. Perder-se na memória, perder-se na saudade, perder-se na vitória e perder-se na derrota. Precisamos perder-nos em tudo que ganhamos e, principalmente, perder-nos em tudo aquilo que perdemos.
Perder-se é um ato de coragem, de decisão, mais que escolha, perder-se é um alívio imediato, um alívio necessário, um gozo insensato em meio a mediocridade do cotidiano. Perder-se é preciso.
Uma vitória nos preenche e logo torna-se uma memória, um vulto pretérito a locupletar nossa vida com saudade, aquele sentimento chave que nos leva ao passado e que, de certa forma, colore nossas lágrimas ao lembrar-nos das coisas boas. Afinal, porque gostaríamos de recorrer à lembranças ruins? Mas não seria a perda algo ruim?
Uma morte pode vir sem ser anunciada, quebrando nosso ritmo diário. Uma morte pode ser percebida com antecedência e em alguns casos até desejada, e isso não nos parece algo bom. Perder uma vida é perder um pedaço do que nos completa, é perder lembranças nossas, é perder sentimentos sobre nós. Perder uma vida próxima é perder também uma parte do que nos completa.
Ainda assim, devemos nos perder, nem que seja uma única vez, um único instante, um ínfimo átimo de tempo no decorrer dos dias. Perder-se por completo dentro de si próprio e por lá ficar, na vastidão do eu interno. Perder-se por completo, por querência própria, perder-se por paixão de si mesmo. Perder-se por medo, por medo de perder a alegria e a vitalidade. Perder-se ali, dentro do âmago do ser e de lá sair somente quando perder-se a vontade total de nada mais e ninguém mais querer encontrar.