O olho passeia, linha por linha da rede tecida diariamente. O olho anseia mais que a mente. A mente persegue apenas aquilo que o olho capta. Mas o olho, que tanto se orgulha de captar, foi e sempre é captado. O olho que caça é caçado. A mente apenas tenta entender.
O olho passeia livremente, pensa. A rede é tecida diariamente por tantos leitores quanto escritores e todas suas esquizofrenias, todas suas fobias. O olho cansa tanto antes que a mente. O olho ainda caça à exaustão. E anseia.
O olho caça e a mente divaga moribunda sem nada mais conseguir pensar. A mente pesa e o olho explode.
O olho já não é mais livre, o olho persegue a perseguição que lhe percorre no encalço. O olho treme. A liberdade de caçar do olho é suprimida pela falsa liberdade de apenas estar atrás de alguma coisa qualquer. O olho já não sente
O olho não se escapa mais, a mente se esvai, o braço dói e a alma sucumbe. A razão fora apagada. Os dedos vociferam as verdades que a boca grita nas letras e nas linhas. O olho dorme acordado e se vê orgulhoso de qualquer coisa que ainda não entende. O olho já não entende mais nada.
O olho passeia as linhas tecidas em conjunto da rede. A rede se molda com outra rede e com outra rede se molda à outra rede. A rede tecida aumenta ainda mais e o olho já não enxerga mais diferença. O olho se vê rei de tudo e todos!
O olho se apaga a dormir quebrantado e encantado com todas as verdades acumuladas. A mente está despida de si mesma e o olho se pensa o ser pensante que jamais fora. O olho é rei agora e todos são seus súditos. A mente, antes livre, agora é encarcerada para além da rede. A rede é suprema verdade e o olho se torna seu arauto de fé.
O olho é tudo e tudo anseia, só não se sabe mais dono de si. O olho está convencido, é o fim.