Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal

Grande parte da sociedade espera ansiosamente pela chegada das férias de final de ano. Fazem planos para este período que geralmente é de descanso e diversão, constroem expectativas a respeito da satisfação dos próprios desejos, alimentam sonhos, se preparam para fazer tudo aquilo que gostariam de ter realizado durante o ano mas que por vários motivos não fizeram.

É assim que planejam acordar fora do horário habitual, tomar um café da manhã com calma, colocar uma roupa de banho, pegar cadeira de praia e todos os outros acessórios e ir para a beira mar se bronzear e tomar um banho de mar naquela água limpa e refrescante. Mas, será que a realidade possibilita que todas essas idealizações se realizem? E se o vizinho fizer barulho logo cedo? E se o café ficar doce demais? Se a roupa de banho não servir mais, e a cadeira de praia estiver acidentalmente quebrada? Se o mar estiver impróprio para o banho?

Quando colocamos a responsabilidade da nossa felicidade em algo ou em alguém, abdicamos de termos o controle total da situação e passamos a ter somente um controle parcial. É claro que com isso as chances de que ocorram frustrações aumentam porque passamos a depender de algo ou de alguém para validarmos o nosso dia, para considerá-lo feliz.

É por isso que corre-se riscos quando devido a padrões de dependência afetiva e vazio existencial, o indivíduo faz planos baseando a sua felicidade naquilo que pode sofrer alterações. É pelo simples fato do ser humano não ter controle sobre o clima, sobre as vontades, sentimentos, pensamentos e comportamentos de um outro indivíduo por exemplo, que fica instável ao depender da permanência disto para se satisfazer. Como contar com algo que é mutável?

Isso não significa que o indivíduo precisará buscar somente aquilo que ele tem controle para se satisfazer, afinal, restarão poucas opções para isto. Mas significa que para que os dias não se tornem frustrantes, é necessário ter consciência de que uma frustração corresponde a somente isto: uma frustração; e que ela não precisa frustrar todo um dia, ou as férias, por exemplo.

Há quem diante de uma frustração interrompa todos os outros planos do dia, ou não consiga lidar com a decepção permitindo que o sentimento decorrente desta (raiva, tristeza…) seja vivenciado durante todo um dia, e não apenas naquela situação que os desencadeou. Quando isto acontece, geralmente estão associadas crenças negativas de que “nunca nada dá certo para mim”, “tenho que desistir mesmo”, “não dá para contar com as pessoas”. Estas crenças inconscientemente reforçam posturas de vitimização, e impedem que seja desenvolvida a capacidade de resiliência.

Fazer planos é muito importante para que o indivíduo construa seu sentido próprio de vida, e elenque as prioridades que são consideradas oportunas para satisfazê-lo, contudo, ter maturidade emocional para lidar com imprevistos e se reajustar a um novo planejamento pode contribuir significativamente para a real felicidade que tanto este indivíduo busca.

É desta forma que, quando em consultório pergunto a alguém sobre sua prioridade ao fazer determinado plano, recebo como resposta a frase “ser feliz”. Então, refletindo, percebemos que este ser feliz pode ser construído internamente, dependendo somente o necessário de ter algo para se sentir feliz. Ser é algo que depende exclusivamente de cada um, diferente do ter, que é oportunizado por diversos fatores externos.

Desta forma, ao fazer seus planos, verifique qual o objetivo por trás deles e, como você está disposto a se tornar feliz independente da realização destes planos. A frustração é natural e merece elaboração e expressão do sofrimento causado, mas é importante que seja vivida de forma situacional e não como uma questão de destino ou de complô contra si.

Que acima de tudo a sua prioridade seja ser feliz apesar das frustrações naturais do processo de viver.