Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal
Não estamos entendendo o que está acontecendo no mundo com as pessoas, mas, será que estamos investindo tempo e esforço em entender o que está acontecendo conosco, individualmente?
A crueldade ultrapassa qualquer forma de entendimento humano, ás vezes temos a sensação que algumas ações de tão inconcebíveis chegam a ser desumanas. A verdade é que tais ações cabem somente ao ser humano, somente ele, o único animal com capacidade intelectual e simbólica é capaz de ferir o outro para a satisfação dos seus próprios desejos, ou seja, é humano embora se torne difícil reconhecer. Estes comportamentos cruéis a que temos lidado constantemente na nossa sociedade correspondem psicologicamente a questões neuróticas, e ás vezes, psicóticas, contudo, constituindo alternativas de autosatisfação extremamente egóicas e narcisistas.
Quando o indivíduo deixa de desenvolver alguma capacidade, passa a ficar refém da falta de conhecimento sobre determinada capacidade, tendo que lidar direta ou indiretamente com as consequências disso.
A priori, não é diferente com a questão emocional, quando não há desenvolvimento emocional, ou seja, quando o indivíduo não investe em si a ponto de compreender suas dificuldades e sofrimentos, ele automaticamente reforça a precariedade que tem para lidar com aquilo que lhe provoca tamanha tristeza, raiva, ódio, medo, frustração. Deste modo é que ele acaba se tornando refém de suas dores, e incluindo outros seres nisso. É a partir disso que tem se buscado alternativas radicais para a satisfação dos próprios desejos, afinal, se não estamos querendo voltar o olhar para nós mesmos, quem dirá teremos intenção de voltar o mesmo para o outro. A falta de empatia tem contribuído para frases como: “Haja o que houver!”, “Doa a quem doer”.
Freud nos diz que somos seres insatisfeitos, que ao satisfazermos um desejo encontramos uma nova insatisfação para por fim saciá-la. A grande questão é a ausência de limites para a conquista daquilo que se quer que tem ultrapassado a civilidade, e é neste limiar entre o querer e o poder que se encontram as maiores atrocidades que um ser humano é capaz de fazer para alimentar as suas próprias neuroses.
Há mais de um século surgiu a ciência da psicologia, uma ciência que busca compreender o comportamento humano e os processos mentais que envolvem atenção, cognição, emoção… Na época, permeada de julgamentos morais, a psicologia tentava se estabelecer no mundo como um método de compreensão dos sentimentos e comportamentos humanos, e com isso, elaborar os problemas psiquícos decorrentes de conflitos emocionais.
Este objetivo é a essência desta ciência, contudo, ainda mais de um século após o seu surgimento, percebe-se que existem ideias errôneas e preconceituosas a respeito desta profissão que se aplica a área da saúde.
É por negligenciar as próprias emoções, ações e pensamentos que o indivíduo não reconhece a importância do autocuidado através do investimento na sua saúde mental, deste modo, desconhecendo as ciências que se ocupam em cuidar desta área.
Toda dor emocional que não é elaborada e ressignificada se torna um perigoso gatilho para a manifestação de comportamentos disfuncionais, corroborando para medidas extremas. Contudo, quando as dores emocionais são tratadas dentro de um viés clínico, podem ser compreendidas a ponto de se transformarem em pensamentos e comportamentos saudáveis.
Por isso, não somente se questione sobre o que está acontecendo com a humanidade, mas sobretudo, se pergunte sobre o que está acontecendo com você. O autoconhecimento é o manual psíquico que cada indivíduo carrega a respeito de si, então se aproprie do seu, é o seu direito.
É importante salientar que, independente de cada abordagem teórica que busque compreender o comportamento humano, não cabe a área da psicologia julgar de nenhum modo as ações humanas, cabe aos psicólogos e psicólogas, quando imbuídos de suas profissões, realizarem as contribuições que lhes cabem enquanto profissionais para os devidos fins.