Primeiras acusações contra presidente da Multiplicando Talentos devem ser por organização criminosa e peculato.
Até o fim da próxima semana o Ministério Público de Santa Catarina, através da 11ª Promotoria de Justiça da Comarca de Criciúma, deve oferecer uma primeira denúncia contra o presidente da Multiplicando Talentos, Eduardo Milioli, inicialmente por peculato e organização criminosa. Ele foi preso preventivamente na última quinta-feira, quando foi deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) a “Operação Talentos”.
A força tarefa tem como objetivo combater desvios de recursos públicos na administração dos Centros de Atendimento Socioeducativo Provisório (Casep) de Tubarão e Criciúma e nas Casas de Semiliberdade de Criciúma e Araranguá, geridas justamente pela organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) Multiplicando Talentos.
O coordenador do Gaeco em Criciúma, promotor Gustavo Wiggers, contou que as investigações, iniciadas a partir do depoimento de um ex-funcionário em 2015, remontam a movimentações suspeitas desde 2011. “Depois essas suspeitas foram evidenciadas, em situações até amadoras, como a criação de uma empresa particular do presidente, que desenvolvia suas atividades dentro da OSCIP, com funcionários pagos pelo Estado prestando serviços para a empresa privada; em comparações de notas fiscais que não correspondem aos serviços prestados; em notas pagas à oficineiros que nunca prestaram serviços, cujo recurso foi desviado. Além disso, se sobrava dinheiro dos convênios do Estado, era usado para pagar contas da OSCIP, o que não é permitido. Há também a construção de uma casa em Araranguá com dinheiro público; além da promoção de marketing da empresa privada do presidente através de uma agência que tem pagamentos recebidos apenas da Multiplicando Talentos”, destacou.
Uma das sete pessoas presas temporariamente na quinta-feira foi liberada após depoimento. As outras seis seguem sob custódia, além do presidente, que foi preso preventivamente. A força tarefa contou com apoio de todos os Gaecos de Santa Catarina, bem como de 50 policiais civis e militares e cinco promotores de Justiça. “Os prejuízos estimados são de R$ 1,5 milhão do que foi analisado até março de 2016. Por isso acreditamos que o valor desviado até agora é muito maior”, ressaltou Wiggers.
Um homem segue foragido
De acordo com Wiggers, dos oito mandados de prisão temporária que deveriam ter sido cumpridos, um não foi porque o homem procurado não foi encontrado. O foragido é morador de Timbó e prestava serviços regularmente para a Multiplicando Talentos.
Intervenção da SJC
A Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (SJC) confirmou nesta sexta-feira, por meio de Nota Oficial, que realizará “uma intervenção administrativa e operacional do Departamento de Administração Socioeducativo (Dease) nas unidades socioeducativas administradas pela Organização Governamental (ONG) Multiplicando Talentos, conforme dispositivo de convênio. Para tanto será solicitado judicialmente a designação de servidores do quadro da SJC para operacionalização da medida de intervenção”.
No comunicado ainda consta que “desde as 8h da manhã desta sexta-feira, 28, uma equipe multidisciplinar do Dease já está presente nas quatro unidades administradas pela Multiplicando Talentos para fazer o devido acompanhamento de todas as atividades e garantir a normalidade dos procedimentos padrões”.