Sim, a escola é um porre! É uma chatice total, uma das piores coisas que se deve aturar na atualidade. A escola é chata e ponto final! Ou um ponto de exclamação também!
Eu me pergunto como nossos alunos e nossas alunas conseguem aturar tanta chatice, tanta baboseira, tanta enrolação na escola. Você entra lá ainda criancinha e sai apenas quando quase adulto. Aliás, alguns saem de lá adultos apenas e uns saem sem nunca terem saído completamente. Outros abandonam como tantas e tantas coisas abandonarão no decorrer de suas vidas. E a escola se perde no labirinto de lembranças.
Tanto tempo enjaulados em sala de aula e quase nada de contribuição ao emprego que seguirão. Tanto tempo aprendendo matemática mas sem nunca saber onde usar aquelas fórmulas ou entender o porquê os juros nos ferram nos empréstimos. Uma quinquilharia de nomes e lugares e datas em geografia e história que jamais farão sentido numa vida que terminará numa lápide fria qualquer. “Morri. Fui alguém importante para alguém. Mas em breve serei esquecido também como tantas coisas esqueci na vida…”
Uma verborragia sem sentido em classificações e ligações químicas que não me interessam se o médico explicar direitinho como tomar meu remédio. Bem, se tivesse prestado atenção na aula de física, quem sabe dirigiria melhor na curva em que bati meu carro acelerado a 120 quilômetros por hora. Se tivesse calculado melhor o tempo de saída e retorno, se tivesse consultado um mapa, se tivesse prestado mais atenção nas lições sobre o trânsito…
A escola é um porre, mesmo assim. Não preciso de artes quando tenho todos meus filmes à disposição na internet. Não preciso aprender artes. Não preciso aprender educação física porque também não vou ser atleta e se for, serei patrocinado. Não preciso da escola, em momento algum, a não ser pelo atestado de frequência.
…
A mim, professor, essas palavras parecem torpedos diários. Um eterno não querer a qualquer coisa que seja proposta da maneira mais esmiuçada possível. Quando aluno, em meus tempos de criança e adolescente, tínhamos festas juninas, jogos escolares, feiras de ciência, exposição, vários passeios, visitas a vários lugares, saída a campo, trabalhos diferentes. Quando professor realizei tudo isso inúmeras vezes, mas, em pouco mais de uma década na profissão, tenho visto o desinteresse crescer cada vez mais em nossos alunos. Infelizmente o celular tornou-se um grande vilão em sala de aula e fora dela. Nada mais interessa perante qualquer coisa que venha da caixinha de maravilhas que ele é. Obviamente não é exclusividade dele tamanha culpa.
Às vezes pergunto aos meus alunos e alunas o que acham que desmotiva seus professores. Salário, dizem. Rotina de trabalho, dizem. Incomodação de alunos e pais, reconhecem. Pode ser tudo isso, sim, com certeza. Todavia, nada incomoda e desmotiva mais um professor ou professora que tentar repetida vezes dar o seu melhor, fazer diferente, propor algo que desfaça a rotina diária da sala de aula e ouvir de seus alunos:
_ Não quero!
_ E por quê?
_ Porque não.
É, a escola é um porre mesmo. Para muitos ela continuará sendo só isso, um passo para algum outro lugar. Para outros, um degrau que precisa ser subido. Para mim é um mar de tentativas onde inúmeras ilhas ainda não foram alcançadas. Espero poder ter ânimo o suficiente para chegar a cada uma delas. Caso contrário, quando me perguntarem o que penso da escola, de minha profissão, posso estar me desfazendo e proferindo, mecanicamente:
_ A escola é um porre..