A timeline se encheu naquele dia tal como fora um ano antes e rapidamente pôs-se a responder amigável e automaticamente cada parabéns. Era um ritual a repetir-se a cada volta da terra em redor do sol. Teclas e teclas e teclas, dia após dia, mês após mês e assim sucessivamente em cada ocasião.
Foi assim um ano, depois outro ano, desde a época do finado Orkut. Tempos modernos, hipermodernos e “hipertudo”. Não há idade que acompanhe tamanha mudança. Mas naquele mês teve uma ideia: apagou seu “parabéns” do perfil! Ousado? Estranho? Orgulhoso? Não, nada disso. Apenas deixou a translação ocorrer rotineiramente ao gosto cósmico das estações.
Também já não tecla parabéns, a não ser que alguém especial relembre quando aparece em sua timeline que, aliás, não é lá muito aconchegante. “É um ogro!”, dizem por aí. Tanto faz. Há felicidade suficiente em não querer parecer-se feliz a todo instante para todo mundo. E nem precisa mesmo disso.
Foi mais ousado ainda: apagou sua foto de perfil! Ainda havia forças dentro de si quando apagou todas as fotos de todos os seus álbuns!
Deletou seu blog!
Excluiu seus aplicativos do celular!
Escarafunchou cada pedaço da web e, como um detetive, remontou toda sua vida virtual desde o seu nascimento para esse mundo que já não quer mais. Apenas garantiu que fosse um cidadão virtual, nada mais.
Passaram-se dias, mais de um mês. Então um aceno sincero do outro lado da rua e em seguida um aperto de mão. Seguiram-se sorrisos e novas conversas e gradualmente o mundo recomeçou a se encher de cores.
Descobriu que primos haviam se casado e primas já estavam separadas. Redescobriu tios e tias e até visitou entes queridos no cemitério, permitindo-se um suspiro e o deslizar agridoce de uma lágrima. Nunca se sentiu tão vivo como naquele momento.
Atravessou a rua de sua casa, algumas poucas quadras e ainda estavam lá alguns amigos de infância. Foi ao bar da esquina para conferir os novos bêbados da vila. Pedalou, caminhou e respirou o ar livre em meio à floresta.
Pescou, jogou sinuca e canastra, contou piadas, almoçou fora de casa e até arrumou seu toca discos!
Fez tudo isso em 365 dias reais, os mais verdadeiros de sua vida em toda sua vida desde que largou a sua vida de mentira e retomou sua vida de verdade.
Doze meses, doze livros a menos na lista de leitura.
Doze meses, tantas “indas” e vindas…
Ao completar 365 dias novos em sua vida conseguiu reunir amigos, familiares e comemorar a realidade.
Olhou para seu celular, para o notebook. Eles continuavam a ser como eram e já não tomavam-lhe tanto tempo.
Olhou-os uma vez mais antes de dormir e suspirou: “Feliz aniversário”. Adormeceu e nem precisou sonhar, apenas viver.