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Torcedor travestido de presidente

eduardo madeira

Se você perguntar para dez torcedores o que eles acharam da campanha do Criciúma no Campeonato Catarinense, a maioria – talvez todos – vai se mostrar insatisfeita. Na visão apaixonada de quem frequenta as arquibancadas semanalmente, pouco importa a condição real do clube, a força do elenco e a qualidade do adversário, ele quer vencer e ser campeão.

O presidente do clube, porém, não pode ter uma postura dessas. Espera-se do mandatário do clube um comportamento centrado e até mediador entre os mais variados setores da agremiação. Quanto menos paixão para observar os acontecimentos e mais senso crítico para encontrar o caminho das vitórias, melhor.

Olhando para nossa realidade, a postura do presidente do Criciúma, Jaime Dal Farra me causou preocupação. Após o empate por 2 a 2 com o Metropolitano, ele concedeu entrevista à Rádio Eldorado e utilizou frases fortes, como “falta de sangue nos olhos” e disse que “do jeito que está, não vão a lugar algum”.

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Dal Farra tem todo o direito de pensar assim, afinal de contas, também é torcedor e nutre uma paixão pelo time. Porém, a partir do momento em que sai de casa e vai para o clube, precisa deixar o torcedor em casa e vestir a “roupa” de presidente. É inadmissível que dê tal declaração em uma emissora de rádio, demonstrando uma paixão e um descontrole incabível para quem exerce tal função.

Procuro colocar essa questão como um acontecimento de uma empresa qualquer. Você acharia legal que o seu chefe falasse publicamente que falta vontade dos funcionários e que da maneira que está, não iriam a lugar algum? Se estivesse nessa posição, ficaria bastante insatisfeito. Não sei como os jogadores absorveram essas declarações, tampouco se ficaram sabendo delas (creio que sim). Talvez os atletas estejam acostumados com o jeitão de Dal Farra, simplesmente ignoraram e eu esteja falando para o vento, mas gosto de lembrar uma velha regra, que o presidente certamente já ouviu falar, que fala que internamente dá para “quebrar o pau” e lavar a roupa suja, mas externamente é preciso haver um protecionismo maior.

Com um pouco mais de inteligência e até de preparo vindo do staff do clube, Dal Farra poderia dar uma declaração padrão e evasiva, que demonstrasse a insatisfação com a situação, mas que não expusesse os jogadores da maneira que expôs. O desempenho do Criciúma no Estadual, dentro do cenário atual e dos concorrentes, ficou dentro do esperado. Logo, inflamar o clube agora com declarações descabidas e apaixonadas é totalmente desnecessário e só demonstra que hoje ele ainda é um torcedor sentado na cadeira do presidente, e não um mandatário exemplar.


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