Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal
As neuroses não surgem ao acaso, elas são construídas através de crenças pessoais e culturais, padrões familiares, espaço em que se vive, relações e vínculos sociais. Assim, todo sofrimento tem o seu motivo para existir, ou seja, eles estão relacionados aos fatores que fazem parte da vida de cada indivíduo, logo, possuem fundamento para existir. Quando consideramos que existe uma construção sociocultural que estabelece regras para indivíduos de acordo com o gênero ao qual se identificam, conseguimos analisar melhor a origem das neuroses, e assim, torna-se mais real compreender o motivo por trás de cada conflito existencial.
As mulheres que aprenderam desde crianças a terem “modos de menina”, serem educadas e delicadas; que aprenderam que chorar é sinônimo de drama, que sentir é equivalente a ser fraca, que reivindicar direitos através do grito é ser “histérica”, que toda demonstração de afeto é sinônimo de dependência afetiva; as mulheres que lidam diariamente com julgamentos morais em que de vítimas passam a ser culpadas pelos crimes que sofrem, que ouvem constantemente que gostam de apanhar, que foram traídas porque mereceram, que devem priorizar a vida doméstica, que para serem amadas precisam ser “boazinhas”; essas mulheres adoecem e sofrem não porque a biologia as fez assim, mas sim porque a cultura baseada em um modelo patriarcal as tornou seres que sofrem através de seus estereótipos de gênero. Em resumo, a cultura e a moral repressora construíram o sofrimento de cada uma dessas mulheres que foram educadas a viver limitadas por simplesmente serem mulheres.
É assim, a partir de tais definições que sentimentos como: insegurança, medo, culpa, vergonha, humilhação, desvalorização, tornam-se presentes na vida das mulheres. Estes que consequentemente geram comportamentos de: anulação, embotamento afetivo, dependência afetiva, e que podem culminar em diversos quadros patológicos.
Portanto, hoje não é um dia de festa, não há motivos para alegrias quando falamos de mulheres que morreram e ainda morrem lutando pela conquista de direitos que são óbvios se não fossem obscurecidos por uma cultura com resquícios de um modelo patriarcal repressor. Mas é um dia para refletir que tipos de comportamentos temos e que são baseados em pensamentos repressores e rígidos para com o gênero do qual fazemos parte. É um dia para nós mulheres nos empoderarmos e revermos os conceitos que estão limitando as nossas vidas simplesmente por serem baseados em argumentos limitantes e muitas vezes, incompatíveis com a realidade de cada uma de nós.
Deste modo, perceba se os seus sentimentos de inadequação são originados através crenças limitadoras, e busque alternativas para se experimentar fora dos padrões “estabelecidos”. É provável que haverá sofrimento em ambas as escolhas: sofre-se por reproduzir algo que não é espontâneo, e sofre-se por abdicar desses comportamentos e deixar talvez de agradar a quem os estruturou. Porém, nas duas situações é fundamental se questionar sobre qual papel você mulher está desempenhando na sua vida e se ele está condizente com o que você almeja para si.