É verão, tempo de praia, sol e alegria. Na verdade tanto faz que estação seja se a propaganda for boa. O que importa é anunciar tudo que puder ser consumido no menor tempo possível: produtos, pessoas, lugares. Nem o tempo escasso escapa de ser consumido tal qual as relações entre pessoas, seres e entre as pessoas e os lugares onde se encontram momentaneamente ou não. O tempo escorre com pessoas escorrendo entre si, dentro de si, para fora de si, para lugar algum ou todos os lugares ao mesmo tempo.
Não há mais fotografias, diz o especialista, saudosista do tempo em que valia a pena registrar algo que pudesse ser realmente compartilhado, vivido e revivido em consonância com algum sentimento especial. Hoje há um clic rápido e rasteiro, superficialmente concretizado em alguma pose qualquer pré-definida para aquele insípido ‘estar ali’. Tão logo postada em alguma rede social tal imagem instantaneamente será consumida em alguns ou milhares de ‘likes’ para então cair no esquecimento, tanto quanto o momento ‘vivenciado’ …
Não há mais criatividade, diz o outro especialista, apenas um desenrolar de um ou outro roteiro qualquer, seja no filme que arrecadará milhões seja no livro que logo será também um blockbuster. Ao fim tudo consumido rápida e ferozmente para entrar na lista subitamente intelectualizada dos novos especialistas em tudo…
É tempo de compartilhar as dores e alegrias mesmo que não saibamos ao certo se e qual delas aumentará ou diminuirá conforme nossa exposição. Antes dizíamos que precisávamos Ser mais do que Ter, porém a regra que vivenciamos parece ser outra: estar é mais importante que os dois verbos anteriores. Estar onde estão os outros, estar e ser visto, estar e provar que foi visto.
Inveja-me um amigo que desvencilhou-se de sua caixinha mágica de Pandora com todos seus galanteios e vem tentando caminhar pelo mundo sendo apenas ele sem precisar ser o que querem que ele seja. Ser é estar sendo e muito raro, quase impossível ser sem os outros, mas é preciso ser quem se é livre de amarras e correias que parecem saltar de nossas caixinhas luminosas e suas mágicas presas.
Meu amigo voltou ao celular da ‘cobrinha’. Parece que naquele mundo menos completo aos olhos de milhares e mais vazio de tudo é onde ele encontrou exatamente aquilo que o ser humano mais precisa no momento: paz e quietude.