O primeiro princípio que você precisa ter antes de ler essa coluna é o seguinte: esquema tático é uma coisa, modelo de jogo é outra. O esquema é o número, o 4-4-2, o 4-2-3-1, 4-1-4-1, 4-3-3, enfim. São números, muitas vezes, vagos e que apenas lhe fazem ter um entendimento inicial do que verá em campo. Modelo de jogo trata do comportamento do time e de seu posicionamento no gramado. Ou seja, os “três volantes” ou “três zagueiros”, muitas vezes taxados como defensivos, ou os “três ou quatro atacantes”, tidos como ofensivos, dependem única e exclusivamente da proposta de atuação para ser desta maneira.
Tido isto, cabe o contexto: o técnico do Criciúma, Roberto Cavalo chamou a atenção de quem acompanha o clube ao começar a treinar a equipe com uma espécie de 3-4-3 (ou 3-3-1-3). No jogo-treino diante do Atlético Tubarão, que acabou empatado por 1×1, o Tigre foi escalado com três zagueiros (Raphael Silva, Ferron e Diego Giaretta), três volantes (João Afonso, Dodi e Barreto) e apenas Juninho na armação. Outra novidade foi a participação de Roberto e Niltinho como alas. Mudança? Não, manutenção de proposta de jogo e tentativa de correção de erros estruturais.
Com três zagueiros, Cavalo parte do princípio equivocado de que “quanto mais gente atrás, melhor defenderei”. O detalhe é que são três zagueiros relativamente lentos e sem qualidade no passe, o que tende a manter a proposta de bola longa e passes laterais.
Na presença de três volantes, Cavalo demonstra a intenção de sustentar atrás e liberar na frente. Parece básico, mas é um conceito que deixou de ser utilizado por times de alto nível há algum tempo. Hoje, todos defendem, todos atacam. Não existe mais espaço para meia que só joga com a bola no pé e volante que só desarma. Ao impor três volantes, é entendido que os três volantes vão trancafiar a entrada da área para liberar os homens de frente.
Já a ausência dos laterais – ou alas – me dá a entender que Cavalo pretende liberar Roberto e Niltinho para o jogo ofensivo e prender os volantes na cobertura, outro conceito considerado ultrapassado e inutilizado. Além disso, deixa claro que, ao liberar os extremos ao ataque, continuará insistindo nas jogadas de linha de fundo e nos cruzamentos.
Estou bastante decepcionado com a intertemporada do Criciúma. Cavalo parece pouco disposto a mudar e a direção parece menos propensa a ajudar nessa mudança. O clube segue se reforçando em setores lotados de atletas (Jocinei reforça o meio-campo, cheio de opções e Yago será mais um dos extremos que Cavalo tem) e deixando setores como as laterais desguarnecidas.
Não creio em rebaixamento, como os mais catastrofistas já preveem, mas não consigo ver o Criciúma subindo. Direção e técnico não colaboram para este cenário, o que é uma decepção, vide que o nível da Série B está baixo. Uma pena, porque a chance chegou a ser real, mas o clube não se ajudou.