Foram precisos quatro resultados negativos de forma consecutiva para que fosse escancarada a limitação e a pobreza de ideias do time do Criciúma. Esta situação venho há alguns meses ressaltando: o time tem recursos limitados e depende muito da profundidade dos seus extremos e das bolas cruzadas.
Fiz um rápido levantamento dos gols do Criciúma e dos 22 que fez na Série B até agora, 15 saíram de jogadas iniciadas em cruzamentos. Ou seja, 68,18% dos tentos do time de Roberto Cavalo começaram em bolas cruzadas na grande área. E não para por aí: conforme aponta o Foot Stats, os carvoeiros lideram o ranking em cruzamentos certos, com 113, sendo o único time que passou da marca centenária. Mas é importante citar que a equipe chegou a esse dado depois de muito tentar, já que é o terceiro que mais errou, com 297.
É um número bastante elevado e preocupante. Claro, não é errado jogar assim, mas o que quero colocar em discussão é que esse tipo de jogada é relativamente fácil de se anular. Um treinador inteligente e que saiba organizar seu time de forma simples, conseguirá marcar essa jogada com extremos obedientes e que componham bem a linha defensiva. Foi o que o Criciúma encontrou nas últimas partidas em casa, quando se deparou com times bem fechados, só conseguindo evitar as derrotas em jogadas na base do abafa, ou seja, abusando dos cruzamentos.
Aliás, um dado interessante que o Foot Stats traz. Observe no gráfico abaixo a quantidade de vezes em que o Criciúma cruzou em todos os jogos na Série B e note como este dado cresceu especialmente nas partidas em que o Tigre não venceu:
Notem, ainda, que nas vitórias sobre Brasil de Pelotas e Vila Nova, o Criciúma pouco cruzou. Os dois jogos se caracterizaram pelos contra-ataques. Contra os gaúchos, um gol no início propiciou isso, já contra os goianos, por ser um jogo fora. Ou seja, com espaço e campo a explorar, os cruzamentos não foram necessários.
Isso retrata bem como o Criciúma é um time pragmático e que explora o erro adversário. Necessita demais de laterais e extremos que busquem constantemente a linha de fundo para acionar os atacantes. Além disso, precisa das jogadas de bola parada para aproveitar a altura de muitos de seus jogadores, como Gustavo, Raphael Silva e Nathan, principais armas nas jogadas de bola aérea.
Gustavo, aliás, que teve seu nome feito por esse sistema. Os nove gols na Série B chamaram a atenção de grandes clubes, inclusive o Corinthians, mas é preciso ressaltar que em Criciúma ele encontra um time que sabe explorar bem suas virtudes no jogo aéreo e na parte física. Gustavo certamente sofreria se estivesse em um time mais veloz e que propusesse um jogo mais vertical pelo chão.
Aparentemente inerte a esta situação, Cavalo não parece esboçar uma nova reação e demonstra contentamento com isso. Não vejo evolução em seu trabalho, já que quando precisa modificar a equipe, vai apenas adicionando atacantes, o que torna o cruzamento e a bola longa como a peça mais viável para chegar ao ataque. É inegável que faltam novas ideias ao técnico criciumense, já que a insistência nos cruzamentos não pode ser a única opção do time.
E aí chego ao ponto onde entra o papel nosso, de analistas do dia-a-dia do clube. Cabe a nós não entrar no frenesi do torcedor, que empolgado com as vitórias, pouco quer saber se o time está abusando dos cruzamentos ou não. Nós, posicionados como o olhar neutro dos acontecimentos, precisamos pontuar estas situações. Quando ganhava, isso parecia não importar. Quando perdeu, ficou escancarado. A culpa também é nossa.